O Banco Nacional encerrou o ciclo recente de elevações da Selic com a taxa básica em 14,75% ao ano, porém está propenso a começar um novo período de cortes apenas no término do primeiro trimestre do ano seguinte, apesar de o mercado estar precificando diminuições antes disso, declarou Ana Madeira, economista-chefe da Morgan Stanley.
Em conversa com a Reuters, Madeira defendeu que as comunicações mais atuais dos gestores do Banco Nacional deixam evidente a intenção de manter a Selic em um nível elevado por mais tempo, mesmo que o mercado não esteja totalmente convencido dessa proposta.
“O ponto em que eles (gestores do Banco Nacional) estão ‘hawk’ é na manutenção por mais tempo em um patamar alto, porém o mercado não está disposto a interpretar dessa forma. O mercado deseja reduções antes do final do ano e, na verdade, está muito dispendioso para o Banco Nacional conseguir transmitir a ideia de manter elevado por mais tempo”, avaliou.
Como a China Pode Redirecionar Seus Investimentos dos EUA para o Brasil
Governo Renova Medidas de Defesa Comercial para Produtos de Aço
IPCA-15 de Maio Indica Possível Fim do Ciclo de Alta da Selic e Mercado Revisa Projeções de Inflação
Diretor do BC afirma que convicção sobre desaceleração da atividade será clara no fim do ano“O Banco Nacional necessitaria implementar mais um aumento de 25 pontos-base para o mercado começar a aceitar a ideia de que ele manterá a Selic elevada por um período prolongado mesmo assim, entretanto não creio que eles tenham a intenção de levar a cabo uma nova elevação”, acrescentou.
A curva de juros está atualmente prevendo a manutenção da Selic em 14,75% em junho e chance quase igual de corte de 25 pontos-base e manutenção da taxa em dezembro deste ano. Posteriormente, há uma probabilidade majoritária de corte de 25 pontos-base já na primeira reunião de política monetária de 2026, no início do primeiro trimestre.
Já o informe Focus indica que a mediana das estimativas dos economistas consultados pelo Banco Nacional aponta para um primeiro corte de 25 pontos-base da Selic na primeira reunião de política monetária de 2026.
A precificação refletida pela curva é reflexo da ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Nacional, divulgada quinze dias atrás, e de declarações de diretores e do presidente da entidade, Gabriel Galípolo.
No discurso mais recente, na última sexta-feira (23), Galípolo sustentou que o Banco Nacional não adote movimentos abruptos na política monetária e defendeu prudência na condução dos juros.
“O que a prudência significa é que, considerando o estágio em que nós estamos na política monetária e em meio à incerteza, o Banco Nacional não deveria adotar decisões radicais”, declarou o presidente do Banco Nacional.
Para Madeira, as mensagens indicam que o Banco Nacional não irá reduzir a Selic antes de 2026.
“É algo por um período prolongado em comparação ao habitual nos demais ciclos”, pontuou a economista-chefe da Morgan Stanley. “Portanto, isso não significa reduzir no final deste ano.”
A expectativa da Morgan Stanley para o início do ciclo de cortes está relacionada em parte ao otimismo em relação à atividade econômica no Brasil. A instituição projeta aumento de 2,3% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 — próximo do consenso do mercado –, entretanto enxerga possibilidade de resultado ainda superior.
“Os dados do mercado de trabalho estão robustos, o desemprego está em baixa. Então, até que ponto este consumo privado consegue desacelerar?”, ponderou Madeira.
Neste contexto, a visão da Morgan Stanley é que a inflação não permitirá cortes da Selic de maneira tão rápida. A instituição prevê inflação de 5,6% em 2025 e de 4,4% em 2026 — em ambos os cenários consideravelmente acima do centro da meta almejada pelo Banco Nacional, de 3%.
Dado que a margem de tolerância para a meta é de 1,5 ponto percentual (inflação até 4,5%), a projeção da Morgan Stanley para 2025 está significativamente acima desse teto e para 2026 está próxima do limite.
Fonte: Money Times
