No crédito livre, instituições bancárias têm autonomia para emprestar o capital captado no mercado e determinar as taxas de juros.
Imagem-arquivo: Cristina Indio do Brasil/Arquivo/Agência BrasilTotalizando, a taxa mediana de juros das aprovações de crédito livre para famílias apresentou um aumento de 0,3 pp em março, acumulando um acréscimo de 3 pp em 12 meses, atingindo 56,4% ao ano.
Contrabalançando os acréscimos no mês, estão os juros do cheque especial, que decresceram 8 pp em março, porém têm uma elevação de 6,1 pp em 12 meses, alcançando 134,2% ao ano. Desde 2020, essa alternativa tem os juros limitados a 8% mensais (151,82% ao ano).
Nas operações com empresas, as taxas médias nas novas contratações de crédito livre registraram um incremento de 0,8 pp no mês e 3,5 pp em 12 meses, atingindo 24,6%. Destaca-se, nesse cenário, a subida de 9 pp na taxa mediana das operações de cheque especial, que atingiu 349,2% ao ano.
“Em março, o impacto da mudança na composição dos saldos (efeito saldo) [das diversas modalidades de crédito] revelou-se crucial para a elevação das taxas medianas de juros do crédito livre, moderado, em parte, pelo efeito da variação das taxas de juros (efeito taxa)”, explicou o BC.
Taxa mediana
No crédito livre, as instituições bancárias têm autonomia para emprestar o capital captado no mercado e definir as taxas de juros cobradas dos clientes. Já o crédito direcionado ─ com normas estipuladas pelo governo ─ é direcionado principalmente aos setores habitacional, rural, de infraestrutura e ao microcrédito.
No caso do crédito direcionado, a taxa para pessoas físicas situou-se em 11,4% ao ano em março, com elevação de 0,9 pp em relação ao mês anterior e de 1,6 pp em 12 meses. Para empresas, a taxa teve um acréscimo de 4,7 pp no mês e de 4,9 pp em 12 meses, atingindo 18,4% ao ano.
Com isso, considerando recursos livres e direcionados, para famílias e empresas, a taxa mediana de juros nas aprovações em março aumentou 0,9 pp no mês e 3,1 pp em 12 meses, atingindo 31,3% ao ano.
O aumento dos juros bancários está ocorrendo em um momento de elevação da taxa básica de juros da economia, a Selic, definida em 14,25% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. A Selic é o principal instrumento utilizado pelo BC para controlar a inflação.
Ao elevar a taxa, o órgão visa reduzir a demanda e conter a inflação, pois os juros mais altos tornam o crédito mais caro e incentivam a poupança, ocasionando uma redução no consumo e uma queda nos preços. Até o final do ano, a previsão dos especialistas é que a Selic suba para 15%.
As estatísticas também apontam que a taxa de captação de recursos pelos bancos (o que é pago pelo crédito) aumentou 0,8 pp no mês e 3,1 pp em 12 meses, atingindo 11,9% em março.
Já o spread bancário, que representa a diferença entre as taxas medianas de juros das operações de crédito e o custo de captação, aumentou 0,1 pp no mês e permaneceu estável em comparação com março de 2024, ficando em 19,4 pp. O spread é uma margem que cobre os custos operacionais, os riscos de inadimplência, os impostos e outros gastos, resultando, assim, no lucro das instituições bancárias.
Saldos das operações
Em março, as aprovações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) tiveram um aumento de 2,7%, atingindo R$ 600,5 bilhões, decorrente de uma redução de 0,1% nas pessoas físicas e um incremento de 6,3% nas empresas. As concessões de crédito direcionado diminuíram 4,4% no mês, enquanto no crédito livre houve um aumento de 3,5%.
Com isso, o total de todos os empréstimos concedidos pelos bancos do SFN ficou em R$ 6,483 trilhões, crescimento de 0,6% em comparação com fevereiro. Na comparação anual, com março do ano anterior, o crédito total aumentou 9,9%. O resultado refletiu um acréscimo de 0,5% no saldo das operações de crédito pactuadas com pessoas jurídicas (R$ 2,455 trilhões) e o aumento de 0,7% nas pessoas físicas (R$ 4,028 trilhões).
Já o crédito ampliado ao setor não financeiro ─ que é o crédito disponível para empresas, famílias e governos, independente da fonte (bancária, mercado de títulos ou dívida externa) ─ alcançou R$ 18,782 trilhões, com um aumento de 0,2% no mês, evidenciando principalmente os acréscimos de 0,5% nos títulos públicos de dívida e de 1,6% nos títulos de dívida securitizados, compensados pela diminuição de 2% nos empréstimos externos, afetados pela valorização da moeda estrangeira no mês.
No período de 12 meses, o crédito ampliado cresceu 13,3%, com avanços de 16,3% nos títulos de dívida e de 9,3% nos empréstimos do sistema financeiro nacional.
Endividamento das famílias
De acordo com o Banco Central, a inadimplência ─ atrasos acima de 90 dias ─ mantém-se constante há um longo período, com pequenas variações. Ela registrou 3,2% em março, sendo 3,8% nas operações para pessoas físicas e 2,2% com pessoas jurídicas.
O endividamento das famílias ─ a relação entre o saldo das dívidas e a renda acumulada em 12 meses ─ ficou em 48,2% em fevereiro, diminuição de 0,3% no mês e acréscimo de 0,4% em 12 meses.
Já o comprometimento da renda ─ a relação entre o valor médio para pagamento das dívidas e a renda média apurada no período ─ ficou em 27,2% em fevereiro, aumento de 0,1% em relação ao mês anterior e de 1,3% em 12 meses.
Esses dois últimos indicadores são apresentados com um maior atraso em relação ao mês de publicação, uma vez que o Banco Central utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Fonte: Agência Brasil