O Banco Nacional encerrou o ciclo recente de elevações da Selic com a taxa básica em 14,75% ao ano, porém está propenso a começar um novo período de cortes apenas no término do primeiro trimestre do ano seguinte, apesar de o mercado estar precificando diminuições antes disso, declarou Ana Madeira, economista-chefe da Morgan Stanley.
Em conversa com a Reuters, Madeira defendeu que as comunicações mais atuais dos gestores do Banco Nacional deixam evidente a intenção de manter a Selic em um nível elevado por mais tempo, mesmo que o mercado não esteja totalmente convencido dessa proposta.
“O ponto em que eles (gestores do Banco Nacional) estão ‘hawk’ é na manutenção por mais tempo em um patamar alto, porém o mercado não está disposto a interpretar dessa forma. O mercado deseja reduções antes do final do ano e, na verdade, está muito dispendioso para o Banco Nacional conseguir transmitir a ideia de manter elevado por mais tempo”, avaliou.




“O Banco Nacional necessitaria implementar mais um aumento de 25 pontos-base para o mercado começar a aceitar a ideia de que ele manterá a Selic elevada por um período prolongado mesmo assim, entretanto não creio que eles tenham a intenção de levar a cabo uma nova elevação”, acrescentou.
A curva de juros está atualmente prevendo a manutenção da Selic em 14,75% em junho e chance quase igual de corte de 25 pontos-base e manutenção da taxa em dezembro deste ano. Posteriormente, há uma probabilidade majoritária de corte de 25 pontos-base já na primeira reunião de política monetária de 2026, no início do primeiro trimestre.
Já o informe Focus indica que a mediana das estimativas dos economistas consultados pelo Banco Nacional aponta para um primeiro corte de 25 pontos-base da Selic na primeira reunião de política monetária de 2026.
A precificação refletida pela curva é reflexo da ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Nacional, divulgada quinze dias atrás, e de declarações de diretores e do presidente da entidade, Gabriel Galípolo.
No discurso mais recente, na última sexta-feira (23), Galípolo sustentou que o Banco Nacional não adote movimentos abruptos na política monetária e defendeu prudência na condução dos juros.
“O que a prudência significa é que, considerando o estágio em que nós estamos na política monetária e em meio à incerteza, o Banco Nacional não deveria adotar decisões radicais”, declarou o presidente do Banco Nacional.
Para Madeira, as mensagens indicam que o Banco Nacional não irá reduzir a Selic antes de 2026.
“É algo por um período prolongado em comparação ao habitual nos demais ciclos”, pontuou a economista-chefe da Morgan Stanley. “Portanto, isso não significa reduzir no final deste ano.”
A expectativa da Morgan Stanley para o início do ciclo de cortes está relacionada em parte ao otimismo em relação à atividade econômica no Brasil. A instituição projeta aumento de 2,3% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 — próximo do consenso do mercado –, entretanto enxerga possibilidade de resultado ainda superior.
“Os dados do mercado de trabalho estão robustos, o desemprego está em baixa. Então, até que ponto este consumo privado consegue desacelerar?”, ponderou Madeira.
Neste contexto, a visão da Morgan Stanley é que a inflação não permitirá cortes da Selic de maneira tão rápida. A instituição prevê inflação de 5,6% em 2025 e de 4,4% em 2026 — em ambos os cenários consideravelmente acima do centro da meta almejada pelo Banco Nacional, de 3%.
Dado que a margem de tolerância para a meta é de 1,5 ponto percentual (inflação até 4,5%), a projeção da Morgan Stanley para 2025 está significativamente acima desse teto e para 2026 está próxima do limite.
Fonte: Money Times