O expert em economia do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmou que o Brasil não pode lamentar a situação econômica na fase pós-interrupção.
A declaração foi feita durante o painel “Visão de Futuro para a Economia Brasileira na Nova Ordem Mundial” do Encontro de Situação Mundial e a Produção Agrícola Tropical, congresso organizado pela CNA/Senar, em colaboração com o Estadão e o Broadcast.
“Nós fomos surpreendidos no que se refere ao financiamento. Entre 2017 e 2019, a média de financiamento do Brasil ficou em apenas 1,4%, com taxa de desemprego acima de 10%. Isso não é comum, é um nível bastante baixo. Durante a pandemia, tivemos uma queda no PIB e após o período de crise, observamos crescimentos substanciais, com 4,2% em 2021, 3% em 2022, 3,2% em 2023 e 3,4% em 2024, o que resultou na taxa de desemprego de 5,3%, a menor da série histórica do IBGE”, explicou.




Outro aspecto favorável, de acordo com ele, está relacionado ao saldo comercial, com recordes consecutivos, atingindo US$ 61 bilhões em 2021, US$ 62 bilhões em 2022, US$ 99 bilhões em 2023 e US$ 75 bilhões no ano anterior. Para 2025, é esperado um saldo entre US$ 70 e 80 bilhões.
“Os dois setores impulsionando o desenvolvimento do Brasil são a agricultura e o petróleo. Nos tornamos um exportador líquido de petróleo, com projeções de crescimento anual até 2030. Quanto à agricultura, há mais de 3 décadas, ela tem mantido um progresso constante em produtividade, com mais de 3% ao ano, sendo um setor que utiliza intensamente tecnologia e conhecimento especializado”.
O significativo desafio financeiro do Brasil
No entanto, o lado desfavorável do Brasil, de acordo com Mansueto, está relacionado ao que ele denomina como “imenso desafio financeiro”.
“Temos uma dívida pública em constante crescimento, o que acarreta em uma inflação muito acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. Devido a essa elevada inflação, não prevemos que ela alcance a meta nos próximos 4 ou 5 anos. Esperamos taxas significativamente elevadas”.
O especialista em economia do BTG Pactual menciona que, em 2023 e 2024, o aumento real do gasto público federal no Brasil foi de 12% em dois anos, superando o aumento real do gasto público de 2014 a 2022.
“O crescimento real do gasto público em dois anos foi superior ao crescimento real do gasto público nos oito anos anteriores, com a crise no meio”, destacou.
Ademais, o economista ressalta que a dívida pública brasileira saltou de 71,7% do PIB em 2022 para 84%, uma situação atípica em meio a um menor desemprego e crescimento econômico, o que é desfavorável para os investimentos.
A urgência de ajustes
Segundo ele, o ajuste fiscal deve se concentrar no controle de despesas, uma vez que a carga tributária brasileira corresponde a 33% do PIB, uma das mais altas da América Latina. Caso medidas eficazes de contenção sejam adotadas, é possível obter ganhos econômicos relevantes.
“Em maio de 2016, no governo Temer, enfrentávamos uma inflação de 9% e uma taxa Selic de 14,25%, que é semelhante à situação atual. Foi implementado um teto para os gastos públicos e a taxa encerrou o governo Temer em 6,5%, e após a aprovação da Reforma da Previdência em 2019, a taxa de juros caiu para 4,5% no final de 2019. A taxa de juros real também diminuiu de 7,5% para 4% entre 2016 e 2018, mesmo com déficits ainda consideráveis, devido à confiança fiscal do mercado”.
Quanto ao governo Lula, Mansueto explicou que houve um déficit primário no primeiro ano, resultando em um déficit fiscal de R$ 244 bilhões. No ano passado, esse déficit fiscal diminuiu para R$ 44 bilhões, porém a expectativa de inflação aumentou devido à perda de credibilidade na política econômica.
“Estamos em um país que possui um déficit nominal de 8,9% do PIB, nos colocando entre os quatro piores países do mundo, ao lado da Bolívia e da China. Entretanto, a China possui uma população consideravelmente grande e juros muito baixos, enquanto o Brasil não dispõe de uma população numerosa para sustentar um rápido crescimento econômico”, comparou.
Ele prevê que a taxa Selic atinja 12% no final do mandato de Lula, mas que veremos taxas elevadas até lá.
Fonte: Money Times