A área de empréstimos privados nesse momento no Brasil se simplifica, principalmente, em uma palavra: seletividade. A avaliação é de gestores que participaram do painel sobre o segmento na TAG Summit 2025.
No meio de um cenário macroeconômico desafiador, caracterizado por taxas de juros altas e incertezas internacionais, a cautela tem sido a abordagem predominante dos investidores.
“Nós analisamos o cenário atual com muita prudência. CDI alto, empresas apertando mais o cinto, fazendo menos investimentos. Precisamos ser seletivos”, afirmou André Fadul, diretor de empréstimos privados na Safra Asset, que também destacou que um equívoco de análise pode, por exemplo, comprometer completamente uma seleção de investimentos.



Fadul recordou a importância de tirar lições dos erros passados, como o caso das Lojas Americanas (AMER3), que deixou uma marca negativa na área de empréstimos privados.
Para ele, a seletividade é considerada crucial não apenas para evitar problemas, mas também para reconhecer oportunidades que possam produzir retornos constantes a longo prazo.
Desafios presentes
Alexandre Theoharidis, gestor da Polígono Capital, ressaltou a fragilidade das empresas em um ambiente de juros elevados. “Mesmo que a Selic não aumente mais, o nível atual é bastante alto para as companhias, que se tornam mais vulneráveis, principalmente as menores, que às vezes precisam usar o caixa para honrar suas dívidas”.
Assim como Fadul, Alexandre também enfatizou a importância da seletividade extrema que o mercado requer, especialmente considerando que empresas de menor porte, vistas como mais arriscadas, podem pagar taxas de até 21% ao ano no empréstimo privado — um risco alto em um cenário como o atual.
Mesmo com adversidades no ambiente econômico, o gestor da Polígono Capital apontou que o mercado está cada vez mais focado em identificar oportunidades geradoras de retornos constantes, e que, portanto, a análise aprofundada dos ativos se torna ainda mais crucial.
O paradoxo dos empréstimos privados e a resistência das empresas
Apesar de todos os desafios, na avaliação dos gestores, o segmento de empréstimos privados brasileiro tem mostrado sinais de adaptação e vive um momento de transformação, impulsionado pela crescente resistência das empresas e pela evolução do setor.
Conforme Samer Serhan, sócio da JiveMauá, o volume de emissões no mercado financeiro atingiu um recorde histórico em 2024, com quase R$ 800 bilhões em emissão apenas de empréstimos privados.
E em 2025, apesar da Selic ultrapassar os 14%, o primeiro trimestre (1T25) não sofreu impacto e registrou um novo recorde em relação aos trimestres anteriores da série histórica.
“Esse é um avanço muito saudável no empréstimo privado”, afirmou Samer, destacando que o mercado financeiro se encontra “10 anos à frente” e que, apesar do aumento das taxas de juros, a economia real está em uma boa fase, o que cria novas oportunidades.
“Em um cenário macro tão desfavorável e desafiador, todo mundo precisa ser seletivo para realizar as distribuições, de fato, mas é um paradoxo: ter um cenário desfavorável e, no Brasil, o mercado financeiro indo muito bem”, explicou.
O efeito das incertezas globais e a preparação do Brasil
O panorama global também foi debatido no painel da TAG Summit 2025, com a crise de confiança mútua afetando os mercados. As incertezas globais, como as disputas comerciais e a desaceleração das principais economias, como China e Estados Unidos, estão influenciando, em parte, a dinâmica do empréstimo privado.
No entanto, segundo Samer, o Brasil tem demonstrado maior preparo para lidar com esses desafios, com empresas sólidas e um mercado financeiro resiliente, resultado das privatizações e do crescimento do setor privado, de acordo com ele.
Para os gestores, 2025 será um ano de ajustes significativos para as empresas brasileiras. Com maior capacidade de adaptação, elas devem atravessar o ciclo de juros elevados com mais segurança, desde que a seletividade na escolha dos ativos seja mantida, priorizando as melhores oportunidades.
Fonte: Money Times