Segundo Joaquim Levy, antigo ministro do Brasil, o país possui os instrumentos necessários para transitar com calma pelos próximos anos, mesmo em um contexto global ainda não definido.
Contudo, o presente diretor de estratégia econômica do Safra identifica a urgência de discursos estratégicos durante o período eleitoral de 2026, debatendo os vastos desafios econômicos nacionais.
“Nos deparamos com um desafio de arrecadação, as emendas dos legisladores e outras questões que precisarão ser abordadas, sobretudo a partir de 2027, por qualquer que seja o governo”, declarou Levy.



Durante sua participação na Agrishow, o economista previu um baixo risco para a economia brasileira até o próximo ciclo eleitoral, desde que o Banco Central mantenha a prudência. Quanto à preocupação do mercado com medidas eleitoreiras, Levy percebe o governo em uma posição complicada.
“O governo precisa manter o rumo. Às vezes surge a tentação de cometer equívocos, mas na realidade não há espaço para isso. Não há motivo, pois o Congresso não permitirá e porque não há recursos”, afirmou Levy.
Taxas de Trump e os efeitos para o agronegócio brasileiro
No que diz respeito ao panorama internacional, Levy considera prematuro prever o desfecho da guerra tarifária. Segundo ele, a principal preocupação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve ser o orçamento do país.
Ao tentar arrecadar fundos por meio das tarifas, Trump pode aumentar o déficit comercial americano, desencadeando impactos nas taxas de juros. Conforme o ex-ministro, o Federal Reserve em algum momento terá que decidir o que fazer.
“Ele ficará preocupado com o aumento da inflação, pois implementou as tarifas, ou tentará amenizar as coisas, pois a economia desacelerará. Se ele optar por ser muito generoso, o que ocorrerá? O dólar começará a se desvalorizar”, afirmou Levy.
Nesse contexto, o economista destacou que as importações chinesas dos EUA estão diminuindo, sendo redirecionadas para outros exportadores como o Brasil, especialmente para os produtos agrícolas.
Para o atual diretor do Safra, a postura do ministério da Fazenda deve ser cautelosa e aberta ao diálogo. “O Brasil precisa dialogar com todos. Não tomar partido de nenhum, nem de outro. Produzimos itens essenciais, produtos de qualidade, tanto na agricultura, quanto na energia, quanto na mineração”, disse.
Levy não enxerga o cenário tão favorável como em 2021 e 2022, quando os preços das commodities estavam mais elevados. No entanto, o Brasil é menos suscetível ao impacto gerado pelas tarifas em comparação com outros países
O economista afirmou que é possível que investidores estrangeiros voltem a se interessar pelo Brasil, considerado acessível com a taxa de câmbio nos níveis atuais.
Índices de Inflação e Juros no Brasil
Levy ressaltou que os problemas ligados à inflação no Brasil são ocasionados pela valorização do dólar, que chegou a atingir R$ 6,30 no final do ano passado.
Com o câmbio impactando os preços, o Produto Interno Bruto (PIB) do país deve crescer 1,5%, impulsionado pelas exportações.
De acordo com o especialista, o Brasil deverá alcançar em 2025 o terceiro maior superávit comercial da história do Brasil, com cerca de US$ 75 bilhões. “Não será equivalente ao que tivemos em 2023, quando atingimos US$ 98 bilhões, mas não é ruim. É consideravelmente melhor do que a média em torno de US$40 bilhões e US$ 50 bilhões”, afirmou.
Levy também indicou que o crescimento será impulsionado pela robusta safra, que aumentou 15% e até mesmo pela elevação da produção de petróleo. Enquanto isso, a demanda interna permanece estável, com potencial crescimento de 1% no consumo das famílias.
Diante desse cenário, o ex-ministro fez suas previsões sobre o momento em que os juros poderão voltar a baixar no Brasil. A expectativa é de que o BC esteja sinalizando uma possível desaceleração e a gradual redução da pressão inflacionária, com o dólar mais baixo do que no ano anterior.
“Provavelmente, em maio o BC aumentará os juros em 0,5 ponto. Depois, ele irá pausar e observar, provavelmente até o final de setembro. Se estiver tudo tranquil naquele momento, ele reduzirá, ou esperará até novembro para começar a reduzir. Cortará em novembro e depois em dezembro, e assim entrará em 2026 já com a capacidade de começar a relaxar”, afirmou Levy.
Fonte: Money Times