A legislação das apostas online não impediu o interesse dos brasileiros pelos jogos de sorte. De início a março, os jogadores investiram até R$ 30 bilhões mensalmente nas bets, informou na última terça-feira (8) o secretário-executivo do Banco Central (BC), Rogério Lucca. Ele e o líder do órgão, Gabriel Galípolo, prestaram depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas do Senado.
Conforme Lucca, no ano anterior, quando o setor ainda não estava regulamentado, o BC tinha calculado cerca de R$ 20 bilhões por mês o montante gasto com apostas online. Com a atualização dos números após a regulamentação, que entrou em vigor em 1º de janeiro, o BC constatou que o valor aumentou um pouco, variando entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões.
“No ano passado, chegamos a uma média mensal de R$ 20 bilhões em transações para esses sites. Este ano, de janeiro a março, o valor que monitoramos para fins de atividade está entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões por mês, confirmando o que tínhamos estimado no final do ano passado”, comentou Lucca.
A fiscalização se intensificou após as apostas legalizadas serem obrigadas a vincular uma conta bancária com uma Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) específica. O BC esclareceu que os dados são apenas para uso interno e não serão divulgados regularmente.
Quase todo o valor apostado é distribuído aos vencedores, porém os números divergem entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central. Segundo Galípolo, a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), vinculada à Fazenda, tem registrado um retorno de 93% a 94% do montante despendido pelos apostadores em prêmios. Em relatório preliminar divulgado no ano passado, o BC havia estimado em 85% o retorno médio em prêmios.
Sem capacidade de supervisão
O líder do BC esclareceu que o órgão apenas pode compilar estatísticas e não possui competência legal para fiscalizar, supervisionar ou aplicar punições, como o bloqueio de transações de apostas não autorizadas a operar no Brasil. Ele explicou que a autoridade monetária só pode agir dessa forma se receber notificação da SPA.
“A Secretaria de Prêmios de Apostas é quem determina quais bets estão autorizadas. O Banco Central, ao ser informado pela SPA, irá orientar as instituições financeiras a não permitirem mais essas transações. Não é o Banco Central que interrompe a transação. A instituição financeira é que deve interrompê-la”, detalhou Galípolo.
O líder do BC explicou que, além de produzir estatísticas, o trabalho do BC em relação às apostas se resume à prevenção à lavagem de dinheiro e ao combate ao terrorismo, atividades para as quais a autoridade monetária possui competência legal. Nesses casos, as instituições financeiras devem informar o BC, que repassará as movimentações suspeitas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ao Ministério Público e à Polícia Federal.
“Não posso permitir que minhas atribuições sejam invadidas nem invadir as atribuições de outros órgãos”, frisou Galípolo.