Nesta quarta-feira (7), ocorreu a entrevista coletiva do presidente do Sistema de Reserva Federal, Jerome Powell, após a manutenção, pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), dos encargos de referência dos Estados Unidos da América (EUA) entre 4,25% a 4,50% por ano. O mercado já previa essa decisão.
No decorrer da coletiva, os participantes do mercado ficam atentos a possíveis orientações futuras a respeito da direção dos encargos, considerando a política tarifária do chefe do Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump.
Confira os principais pontos da fala de Powell:
A estratégia tarifária do chefe dos EstadosUnidos, Donald Trump, aumentou as incertezas sobre o desempenho da principal economia global, mas os efeitos ainda não foram percebidos, segundo o chefe do Sistema de Reserva Federal (Fed), Jerome Powell,
“A incerteza em relação à trajetória da economia está extremamente elevada. […] Os riscos de maior desemprego e maior inflação parecem ter aumentado [após o anúncio das tarifas], porém ainda não se concretizaram nos dados”, comunicou Powell durante a entrevista coletiva. Neste dia (7), o Banco Central dos EUA manteve os encargos inalterados na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano.
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Segundo André Diniz, sócio e economista principal da Kinea, a decisão do Sistema de Reserva Federal de manter os encargos entre 4,25% e 4,50% revela uma postura deliberadamente prudente. “Eles estão tentando adiar decisões e evitar se posicionar de maneira muito definitiva para um lado ou outro”, resume o economista.
Conforme Diniz, o Fed reconhece que houve aumento na incerteza e prefere aguardar mais informações antes de agir. A robustez da economia americana permite essa espera sem grandes riscos: “Os custos de atrasar até ter mais clareza sobre a situação e considerar como agir são baixos.”
Na análise dele, o ponto mais incerto continua sendo o impacto das tarifas recentemente impostas. “A clareza sobre as tarifas — ou a ausência dela — é que continuará determinando o rumo da política monetária”, afirma.
Diniz classifica a postura do Fed como pouco surpreendente: “Segue o jogo, um Fed bastante sem informação, mantendo tudo em aberto. Um Fed pouco interessante, eu diria.”
O Sistema de Reserva Federal optou por manter a taxa básica de encargos entre 4,25% e 4,50%, decisão amplamente prevista pelos mercados. Segundo Danilo Igliori, economista principal da Nomad, o impacto imediato sobre os preços dos ativos deve ser limitado, pois o foco agora se volta às indicações do chefe do Fed, Jerome Powell, diante de um contexto desafiador imposto pelas recentes medidas econômicas, especialmente as tarifas comerciais.
Conforme Igliori, o dilema do Fed fica claro: “a inflação causada por tarifas difere da inflação tradicional de demanda. Aumentar encargos, nesse caso, não resolve o problema; pelo contrário, pode agravar a desaceleração.” Por outro lado, reduzir encargos para estimular a economia pode acabar alimentando ainda mais os preços.
Para o economista, a decisão de manter os encargos estáveis atua como um “voto de confiança na resiliência da economia americana”, que segue com um mercado de trabalho forte e indicadores sólidos, com exceção da contração no PIB no primeiro trimestre — reflexo, principalmente, da antecipação de importações motivada pelas novas tarifas, que impactaram negativamente o cálculo do produto interno bruto.
Igliori também alerta para o ambiente político. O mercado observa de perto qualquer sinal de pressão do governo sobre a autoridade monetária. “Trump tem defendido cortes nos encargos, e qualquer sinal que indique perda de independência do banco central pode gerar volatilidade adicional nos mercados”, adverte.
A decisão unânime do Sistema de Reserva Federal de manter os encargos entre 4,25% e 4,50% ao ano era amplamente esperada pelo mercado e foi encarada como uma medida cautelosa diante de um ambiente cada vez mais incerto. Segundo Gustavo Sung, economista principal da Suno Research, o comunicado da reunião do FOMC desta quarta-feira (7) reiterou que a economia americana ainda cresce de forma sólida, mesmo com os efeitos das novas tarifas comerciais elevando as importações e afetando o balanço das exportações líquidas.
O Fed destacou que o desemprego permanece em níveis baixos e o mercado de trabalho segue forte, porém admitiu aumento na incerteza em relação ao futuro da economia. “O Comitê ressaltou que está atento aos dois lados de sua missão e, desta vez, salientou o aumento das probabilidades de altas tanto no desemprego quanto na inflação, indicando um cenário mais desafiador após as medidas econômicas impostas”, afirma Sung.
Em entrevista após a decisão, o chefe do Fed, Jerome Powell, reconheceu que os impactos das tarifas estão acima do previsto e ainda difíceis de mensurar. Ele deixou claro que o banco central não tem pressa em ajustar os encargos. “Há uma decisão clara de esperar, ver e observar. Quando as coisas se desenvolverem, podemos agir rapidamente se for apropriado”, afirmou Powell.
Para Sung, o cenário-base da Suno é de desaceleração da economia sem recessão, sustentado por um mercado de trabalho ainda equilibrado. Contudo, ele adverte que, com o aumento do risco de estagflação — inflação alta combinada com atividade fraca —, o Fed terá menos margem de manobra para cortes de encargos.
“Caso o mercado de trabalho apresente sinais mais claros de perda de dinamismo, haverá espaço para que o Fed intensifique os cortes ao longo deste ano”, avalia.
Os operadores mantêm suas estimativas de que o Sistema de Reserva Federal provavelmente adotará cortes nos encargos somente em julho. Recentemente, o Banco Central dos Estados Unidos manteve os encargos inalterados na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano, como previsto.
Os contratos futuros vinculados à taxa de encargos reduziram as perdas anteriores após o anúncio e agora indicam a possibilidade de um corte de 0,25 ponto percentual na taxa na próxima reunião em julho, com uma probabilidade de 30% em comparação com a chance de 27% anteriormente.
Um corte na taxa em julho, conforme os preços, está com cerca de 75% de chance.
*Com informações da Reuters
A decisão do Sistema de Reserva Federal de manter os encargos inalterados não surpreendeu o mercado, conforme Gustavo Cruz, estrategista principal da RB Investimentos. O comunicado da autoridade monetária destacou os riscos crescentes nos dois pilares de seu mandato — controle da inflação e manutenção do emprego —, o que mantém em aberto o debate sobre os próximos passos da política monetária nos Estados Unidos.
Para Cruz, o cenário atual abre espaço tanto para argumentos favoráveis a cortes nos encargos quanto para os que consideram essa medida prematura. Ele avalia que, historicamente, o Fed tende a priorizar o apoio à economia em momentos de tensão entre seus dois objetivos. “Ao optar entre combater a inflação ou proteger a economia, a prioridade do banco central é a segunda opção”, afirmou.
Fonte: Money Times