
Andar de cima
O secretário analogou a taxação dos mega-ricos com o caso do ocupante de um penthouse que está isento de pagar o condomínio. “Eu diria que [a lógica do projeto] é quem detém altos rendimentos, começa a contribuir com algo, para que possamos desonerar quem ganha até R$ 5 mil. Lá no topo, na cobertura, não será um sacrifício se a pessoa começar a pagar o condomínio”, justificou Haddad, ao responder se a premissa da reforma seria taxar mais quem aufere mais e aliviar a carga dos que ganham menos.
Atualmente, cerca de 141 mil indivíduos que recebem a partir de R$ 50 mil por mês pagam apenas 2% de alíquota efetiva do Imposto de Renda. Isso acontece porque a maior parte das receitas dos super-ricos provém de dividendos, isentos de tributação, ou são dissimulados com rendimentos de pessoas jurídicas.
Décimo quinto salário
Haddad exibiu dados sobre a desigualdade do sistema tributário brasileiro. O secretário ressaltou que, em algumas ocupações, como o docente de escola pública e o agente da polícia que ganham até R$ 5 mil, a isenção equivalerá, de fato, a um décimo quarto salário.
“Quem aufere R$ 1 milhão por ano acima paga 2% de alíquota. O sistema tributário brasileiro é considerado um dos dez piores do planeta. Concordemos que quem ganha R$ 1 milhão anualmente no Brasil são os mega-ricos. É justo ele receber. Mérito e talento dele. Mas não paga nem 2% de Imposto de Renda, em contraste com um oficial de polícia e uma professora que pagam isso”, declarou o secretário.
Plano de governo
Para o secretário, a reestruturação do Imposto de Renda almeja diminuir as disparidades históricas do Brasil. “Este projeto tem um único propósito: buscar equidade social. Não pretendemos arrecadar um centavo a mais, um centavo a menos. Queremos perseguir algo que este país demora a alcançar. Até a abolição da escravatura no Brasil foi tardia. Fomos o último país a abolir a escravidão”, sublinhou.
Haddad recordou que o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva o convidou para ser secretário da Fazenda em novembro de 2022, durante a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 27), no Egito. Na ocasião, Haddad explicou que só aceitaria o cargo se Lula concordasse com plataformas históricas da esquerda brasileira, como a tributação sobre os mais ricos e a revisão de benefícios fiscais a grandes corporações que ampliam as disparidades.
“Vou restaurar o mínimo da educação e da saúde, tributar o rico no Imposto de Renda, como o senhor mencionou na campanha, há corporações com benefícios que não contribuem em nada para o país, teremos que enfrentar essas empresas. A partir daí, fomos delineando o que seria a política econômica”, relembrou Haddad na entrevista.