Nesta quinta-feira (17), durante o evento Avenue Connection realizado em São Paulo, o especialista em economia Marcos Lisboa, ex-membro da equipe responsável pela Política Econômica do Ministério da Fazenda, apresentou uma crítica contundente em relação ao desempenho econômico do Brasil nos últimos tempos.
De acordo com Lisboa, o país apresenta uma mistura de baixa eficiência produtiva, crescimento limitado e instabilidade frequente, o que demanda dos investidores locais uma abordagem mais elaborada na gestão de riscos.
“O Brasil já se tornou um ambiente conturbado. Constantemente vemos alterações nas regras e legislações, o que nos impede de manter uma visão de longo prazo”, apontou, ressaltando que essa falta de previsibilidade torna o cenário empresarial mais hostil e prejudica o crescimento sustentável.

Expansão aquém das nações semelhantes
Lisboa salientou que, tradicionalmente, países menos desenvolvidos costumam crescer mais rapidamente que os mais ricos. Entretanto, ele observou que o Brasil não seguiu essa lógica nas últimas décadas.
“Desde 1990, ficamos para trás. Estamos distantes do desempenho dos outros países emergentes. Nos últimos 20 anos, o país teve um crescimento modesto”, afirmou.
Segundo o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, entre 1994 e 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) por trabalhador registrou um crescimento médio de 127% nas economias emergentes consideradas. No Brasil, o avanço foi de apenas 18%.
Para Lisboa, a preocupação não se limita à lentidão, mas também à gravidade das crises. “Temos anos bons, como aqueles em que alcançamos um crescimento de 3%, mas nos períodos ruins, as crises aqui são mais intensas do que em outras regiões. Estamos nos empobrecendo mais que os demais”, alertou.
“Nações oscilantes”
Lisboa utilizou uma analogia para descrever as oscilações constantes na economia brasileira. “O Brasil é um país um tanto oscilante. Em algum momento tudo parece ótimo, indicando uma possível decolagem e um futuro potencial altamente positivo, mas em outras ocasiões não é bem assim”, criticou.
Segundo ele, os governos, de maneira geral, tendem a gastar de forma excessiva durante os períodos de prosperidade — muitas vezes com iniciativas mal elaboradas — e se veem sem margem de manobra durante as crises.
“Durante os períodos prósperos, o viés megalomaníaco prevalece e surgem projetos descabidos. Nossa despesa pública é inflexível. Gastamos bastante nos momentos de bonança, mas quando as coisas se complicam, ficamos sem opções”, explicou.
Segundo Lisboa, essa dinâmica prejudica particularmente o Banco Central. “Caso haja um adulto na sala, é o BC. Quando a situação aperta, ele é obrigado a aumentar as taxas de juros.”
Aspectos positivos no Brasil
Ao mesmo tempo em que fez críticas, o economista reconheceu que certos setores no Brasil têm um desempenho notável. “O setor agrícola brasileiro é impressionante. A produtividade tem crescido a uma média de 3% ao ano desde os anos 70. Isso se deve principalmente à tecnologia, não apenas aos recursos naturais”, destacou.
Além disso, ele mencionou avanços no sistema financeiro. “Nosso sistema bancário se destaca em relação ao restante do mundo. O sistema de pagamentos instantâneos Pix é apenas a manifestação mais visível disso”, enfatizou.
Fonte: Money Times