Nas últimas semanas, o mercado vem se organizando para o “Dia da Independência dos Estados Unidos”, como Donald Trump se refere ao anúncio das taxas equivalentes. As novas taxas de comércio exterior para os EUA estão marcadas para serem divulgadas na quarta-feira (2).
O líder norte-americano afirma que a medida liberará o país da dependência de produtos estrangeiros. O propósito do aumento das taxas é diminuir o déficit comercial dos EUA, impulsionar a produção interna, criar empregos e aumentar a arrecadação governamental.
“Iremos cobrar dos países por fazerem negócios em nosso país e tirarem nossos empregos, retirarem nossa riqueza, tirando muitas coisas que eles têm tirado ao longo dos anos. Eles têm retirado muito do nosso país, amigos e inimigos. E, sinceramente, os amigos têm sido frequentemente muito piores do que os inimigos”, declarou em entrevista.


Apesar das ameaças de aumento das taxas, a Casa Branca ainda não especificou o percentual do ajuste, nem indicou quais países serão impactados ou se haverá espaço para negociação.
“Prevemos outra rodada de taxas, mas ninguém sabe ao certo se virão com total força ou se servirão apenas como elemento de barganha em alguma nova rodada de negociações”, afirma Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Ontem, o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) divulgou um documento acusando 59 nações — incluindo o Brasil — de imporem obstáculos e taxas sobre produtos americanos.
No caso brasileiro, o relatório menciona taxas relativamente altas sobre importações em diversos segmentos, como veículos, peças de automóveis, tecnologia da informação, eletrônicos, substâncias químicas, plásticos, equipamentos industriais, aço, têxteis e vestuário.
O USTR também ressalta que a “falta de previsibilidade” das alíquotas brasileiras dificulta o planejamento dos exportadores norte-americanos, que enfrentam limitações e requisitos de compensação nos contratos comerciais.
Quais taxas devem ser divulgadas?
Trump está programado para anunciar amanhã as chamadas taxas equivalentes, que corresponderiam às taxas cobradas por outros países sobre produtos de origem norte-americana. As alíquotas devem variar conforme cada nação.
Spiess observa que nem mesmo dentro do governo norte-americano há clareza sobre os detalhes. “Algumas fontes indicam que o plano é taxar a maior parte das importações em 20%. Outras afirmam que Trump ainda está indeciso sobre a estratégia definitiva”, aponta.
Além das taxas de equivalência, também são aguardadas novas taxas setoriais, como sobre produtos agrícolas, além de uma taxa de 25% para automóveis e peças de automóveis. Também está prevista a imposição de taxas de 25% sobre determinados produtos do México e do Canadá que não estejam incluídos no USMCA (acordo comercial entre os três países).
Desde que iniciou seu segundo mandato, Trump já impôs taxas de 25% sobre aço e alumínio, 20% sobre produtos da China e 25% sobre qualquer país que importe petróleo ou gás da Venezuela.
Taxas adicionais foram anunciadas para a União Europeia, cobre, madeira e produtos farmacêuticos, porém ainda sem definição final.
Impacto do aumento das taxas de Trump
Na semana passada, Trump tentou tranquilizar os investidores ao sugerir que as taxas poderiam ser menores do que as originalmente prometidas. No entanto, a preocupação persiste. A análise geral é que as medidas protecionistas devem resultar em um aumento dos preços dos produtos, dificultando a convergência da inflação com a meta de 2%, tão almejada pelo Federal Reserve nos últimos anos.
Os analistas do BTG Pactual, Bruno Henriques, Arthur Mota, Luis Mollo e Marcel Zambello, preveem um cenário em que o núcleo do Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal (PCE) termine em 2,9% no final de 2025. No entanto, a possibilidade de um índice de 3,3% está se fortalecendo, considerando o risco de que as novas taxas prolonguem a inflação e influenciem a política monetária em 2026.
“Diante desse contexto, o Fed manteve as taxas entre 4,25% e 4,50% em sua última reunião e adotou uma postura mais cautelosa, incorporando o impacto inflacionário das taxas em suas projeções econômicas. Powell indicou pouca margem para cortes no curto prazo, enfatizando que taxas elevadas podem estender o processo de desinflação”, afirmam em relatório.
Além da pressão inflacionária, as taxas podem desacelerar a economia americana. Embora as medidas possam incentivar a abertura de novas fábricas e gerar empregos nos EUA, esse processo pode demandar anos para se concretizar.
A Tax Foundation, organização apartidária que analisa os gastos públicos nos EUA, estima que as taxas já anunciadas podem afetar até US$ 2 trilhões em importações americanas, com potencial de reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA em 0,4%.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, enxerga o cenário de maneira negativa, com as taxas prejudicando o crescimento econômico e os lucros das empresas, ao mesmo tempo em que elevam a inflação.
“Trump parece mais comprometido com sua agenda tarifária do que com qualquer outra prioridade, e sua resistência é alta. No melhor cenário, observaríamos taxas equivalentes de até 15%, com implementação postergada devido a negociações”, destaca.
“O cenário base contempla taxas entre 15% e 20%, com implementação imediata, mas acompanhadas por um compromisso explícito da Casa Branca em dialogar. O pior cenário incluiria taxas superiores a 20%, implementação imediata, ausência de perspectiva de negociação e ameaças de medidas adicionais por setor”, completa o economista.
Fonte: Crypto Money