Os papéis daMéliuz (CASH3)têm registrado aumento superior a 110% desde que a companhia passou a adotar uma estratégia de cashback baseada em bitcoin (BTC). E, nesta quarta-feira (25), o BTG Pactual divulgou um relatório retomando a cobertura dos ativos com indicação de adquirir.
Assim, o BTG também aumentou o objetivo de preço das ações para R$ 10,00, o que significa um potencial de acréscimo de 43% em relação ao fechamento da última terça-feira (24).
No entanto, o que realmente empolgou os analistas na nova proposta de tesouraria de bitcoin?




Retrocedendo um pouco, o Méliuz revelou em março deste ano a estratégia de se transformar em uma Empresa do Tesouro de Bitcoin (em outras palavras, uma empresa de aquisição de bitcoin, a principal criptomoeda do planeta e tida como o “ouro digital”).
Embora seja um tipo de estratégia inédito para organizações — os próprios especialistas admitem que começaram a estudar o modelo há poucas semanas —, o relatório destaca que esta é uma “aposta que merece ser feita”, salientando, entre outros aspectos, o potencial de valorização do bitcoin.
“Nossa reação inicial ao anúncio [de aquisição de BTC] foi de surpresa e dúvida”, comentam os analistas Ricardo Buchpiguel, Eduardo Rosman e Thiago Paura, responsáveis pelo relatório.
“No entanto”, continuam, “com a elevação de 114% na cotação do ativo desde que a estratégia foi revelada, ficou evidente que estávamos deixando passar algo”.
Méliuz (CASH3) e o bitcoin (BTC): Uma análise detalhada nos empreendimentos
Segundo os analistas, a estratégia de investimento da Méliuz se baseia em quatro pilares fundamentais — sendo, naturalmente, o desempenho do bitcoin o mais relevante.
Os outros são:
- A avaliação de seu negócio de cashback já existente;
- A considerável volatilidade das ações CASH3;
- E a capacidade da instituição de emitir obrigações ou instrumentos híbridos (como debêntures convertíveis ou ações preferenciais) atrelados ao bitcoin (BTC).
No caso do BTG, os analistas consideram principalmente o desempenho do bitcoin, a avaliação do negócio já existente e a volatilidade das ações em suas análises.
Começando pelo aval, o negócio de cashback é avaliado em R$ 400 milhões, cerca de 6x o valor da empresa sobre o Ebitda (EV/Ebitda).
Conforme as projeções dos analistas, a unidade tende a perder significância à medida que a participação da estratégia de bitcoin aumenta ao longo do tempo.
Já em relação à volatilidade dos ativos, o BTG ressalta que Empresa do Tesouro de Bitcoin “comercializam volatilidade e exposições diversas ao BTC”.
“Ao contrário das organizações convencionais, essas empresas geram valor não a partir de operações centrais, mas sim aumentando a quantidade de bitcoins por ação (BTC/ação) mediante a emissão de instrumentos financeiros — como ações, debêntures convertíveis, ações preferenciais e warrants”, descrevem.
Volatilidade e disparidade
Portanto, a substancial volatilidade dos ativos dessas empresas implica na negociação desses instrumentos atrelados a opções em condições mais favoráveis para a entidade.
Tomando como exemplo a Estratégia (antes Microstrategy), a companhia frequentemente emite debêntures convertíveis com juros próximos de zero e preços de exercício de opções elevados.
“Visto que alguns investidores buscam exposição ao bitcoin com salvaguardas, estão dispostos a adquirir essas convertíveis — ainda que isso implique em renunciar a parte do potencial de alta do próprio BTC”.
Fundamentalmente, essas empresas listadas utilizam sua condição pública para fornecer exposição estruturada ao bitcoin por meio de variados perfis de risco, ao mesmo tempo em que capturam valor de cada emissão.
Os riscos da estratégia de bitcoin da Méliuz
Conforme o esperado, um fraco desempenho do bitcoin pode desestabilizar a estratégia da Méliuz. Além disso, afirmam os analistas, que tudo pode ruir se algum dos pilares mencionados anteriormente enfraquecer e não for contrabalançado pela solidez nos demais.
“Dessa forma, se o bitcoin tiver um baixo desempenho nos próximos anos, o investidor estará não somente exposto a um ativo em desvalorização, mas a companhia também pode não conseguir emitir novos instrumentos de dívida — o que implica que o investidor teria pago um prêmio de mNAV sem colher os benefícios do rendimento em BTC”, pontuam.
Cabe ressaltar que o mNAV é o múltiplo do Valor Patrimonial Líquido, a relação do valor de mercado da firma em relação ao valor de mercado dos seus bitcoins em custódia.
Deste modo, os especialistas não descartam a hipótese de que a companhia falhe em levantar capital para comprar mais bitcoins, o que comprometeria a lógica básica do modelo. E, é claro, é praticamente impossível prever o preço do BTC de forma precisa.
Mesmo assim, a Méliuz não enfrenta um risco que a própria Estratégia enfrentou com o período de baixa do bitcoin em 2022, que é de ser obrigada a vender suas participações na criptomoeda por valores reduzidos.
Fonte: Money Times