O Brasil não rejeita a possibilidade de buscar auxílio da Organização Mundial do Comércio (OMC) em relação ao aumento de taxas dos Estados Unidos, comunicaram à noite os ministérios das Relações Exteriores (Itamaraty) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). No entanto, o foco atual do governo brasileiro é negociar a revogação das medidas anunciadas nesta quarta-feira (2) pelo presidente norte-americano, Donald Trump.
“Enquanto permanece receptivo à ampliação do diálogo estabelecido nas últimas semanas com o governo norte-americano para reverter as medidas anunciadas e mitigar seus impactos prejudiciais o mais brevemente possível, o governo brasileiro analisa todas as opções de ação para garantir a reciprocidade no comércio bilateral, incluindo a via da Organização Mundial do Comércio, em defesa dos legítimos interesses nacionais”, ressaltaram os dois órgãos, em comunicado conjunto.
O informe salientou que as ações de Trump desrespeitam as normas da OMC. O texto também enfatizou a aprovação pelo Congresso Nacional, de forma urgente, do projeto de lei que dá autorização ao Brasil para responder a países ou blocos que imponham barreiras comerciais aos produtos brasileiros, conhecido como Lei da Reciprocidade.


Conforme o Mdic e o MRE, a sobretaxação de 10% sobre os produtos do Brasil afetará todas as exportações do país para os Estados Unidos, o segundo maior parceiro comercial do Brasil. O governo planeja colaborar com as empresas dos setores impactados para proteger os interesses comerciais do país.
“Em defesa dos empregados e das companhias brasileiras, diante do efetivo impacto das medidas nas exportações do Brasil e em consonância com o seu contínuo apoio ao sistema multilateral de comércio, o governo do Brasil buscará, juntamente com o setor privado, salvaguardar os interesses dos fabricantes nacionais junto ao governo norte-americano”, adiantou o comunicado.
Dados Estatísticos
Os dois ministérios recordaram as estatísticas comerciais divulgadas pelo governo norte-americano. O saldo comercial é mais favorável aos norte-americanos devido ao maior volume de importações do que de exportações do Brasil para os Estados Unidos.
“De acordo com informações do governo dos EUA, o excedente comercial dos EUA com o Brasil em 2024 alcançou cerca de US$ 7 bilhões, apenas em bens. Considerando bens e serviços, o saldo positivo atingiu US$ 28,6 bilhões no ano passado. Esse foi o terceiro maior superávit comercial do país em escala global”, frisou o comunicado.
Nos últimos 15 anos, o saldo comercial favorável dos Estados Unidos em suas transações com o Brasil ultrapassa os US$ 400 bilhões. Assim, o governo brasileiro entende que a medida unilateral de Trump não condiz com a realidade.
“Uma vez que os EUA registram constantes e significativos superávits comerciais em bens e serviços com o Brasil ao longo dos últimos 15 anos, somando US$ 410 bilhões, a imposição unilateral de sobretaxa linear adicional de 10% sobre o Brasil com a justificativa de restabelecer o equilíbrio e a ‘reciprocidade comercial’ não reflete a verdadeira situação”, complementou a declaração conjunta.
Fonte: Agência Brasil