O acordo envolvendo a Argentina foi fechado na última sexta-feira com o Fundo Monetário Internacional (FMI) no valor de US$ 20 bilhões, com um prazo de 4 anos e, como uma medida política de destaque pré-acordo, desfez partes fundamentais de seus controles monetários.
O FMI planeja liberar US$ 12 bilhões até a próxima terça-feira, com mais US$ 2 bilhões disponíveis até junho.
A expectativa é que o pacto auxilie a Argentina a “garantir apoio oficial multilateral e bilateral adicional, além de possibilitar um acesso oportuno aos mercados financeiros internacionais”, declarou o FMI.


Os principais elementos do programa englobam a manutenção de um sólido controle fiscal, a transição para um sistema monetário e cambial mais resistente, com maior liberdade na taxa de câmbio”, complementou em um comunicado.
Antecipadamente na sexta-feira, o banco central argentino anunciou o fim do regime cambial fixo a partir de segunda-feira, permitindo que o peso flutue livremente dentro de uma faixa variável de 1.000 a 1.400 pesos por dólar, comparado com os 1.074 do fechamento de sexta-feira.
A Argentina também extinguirá o chamado “grilhão do dólar”, que limitava a aquisição de moeda estrangeira, adicionou o banco central argentino em um comunicado.
A partir deste ano, as organizações também terão permissão para repatriar lucros para fora do país, atendendo a uma solicitação crucial das empresas que poderá liberar mais investimentos.
“A partir de segunda-feira, teremos condições de eliminar as restrições cambiais, impostas em 2019, que restringiram o funcionamento normal da economia”, comunicou o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, em uma entrevista coletiva.
O presidente Javier Milei se dirigiu à nação em um pronunciamento televisionado na sexta-feira à noite e afirmou que a Argentina está “em uma posição mais favorável do que nunca para enfrentar perturbações externas”.
Um relatório da equipe do FMI a respeito do pacto de US$ 20 bilhões, contudo, alertou que “os riscos negativos permanecem elevados”, uma vez que a execução do programa pode ser desafiada pelas crescentes tensões comerciais globais e, internamente, pela volatilidade acrescida pelo próximo ciclo eleitoral e pelas delicadas condições sociais.
Desvalorização
O novo esquema cambial tem potencial para ocasionar uma desvalorização de quase um terço na moeda se alcançar o limite inferior da faixa, embora o BC provavelmente tenha alguns recursos para intervir. A faixa será expandida em 1% ao mês, conforme informado pela autoridade monetária.
A mudança política ocorreu antes da aprovação final do FMI para o que representa o 23º programa em uma extensa e tumultuada história entre o país e o fundo sediado em Washington.
Os fundos provenientes do acordo com o FMI serão destinados à recapitalização do BC da Argentina, com a expectativa do governo de que isso ajude a fortalecer a moeda, reduzir a inflação e permitir reduções de impostos, disse Caputo.
Outros desembolsos plurianuais também foram comunicados, incluindo US$ 12 bilhões do Banco Mundial e US$ 10 bilhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
A Argentina carece de recursos financeiros significativos para fortalecer as reservas cambiais, que estão deficitárias em termos líquidos e vêm diminuindo nas últimas semanas, em meio a uma inflação estável e diante de um índice de risco-país que está começando a aumentar novamente.
Esses recursos também são cruciais para a eliminação dos controles cambiais, o que provavelmente desencadeará um período de instabilidade no mercado local, já impulsionado pela disputa tarifária internacional entre os Estados Unidos e seus parceiros comerciais.
“A desvalorização vai de encontro ao que o governo esperava ocorrer sem turbulência nas eleições”, mencionou o economista Ricardo Delgado, referindo-se às eleições legislativas de meio de mandato no final do ano.
*Qualquer reprodução deste conteúdo é proibida
Fonte: Agência Brasil