Os intentos do presidente norte-americano, Donald Trump, de implementar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros provavelmente terá impacto nos custos da carne bovina usada nos sanduíches nos Estados Unidos, relataram comerciantes e especialistas nesta quinta-feira, com as indústrias alimentícias cada vez mais dependentes de importações em meio a uma diminuição na produção interna.
A medida acarretaria em desafios para as empresas de carne dos EUA, que também estão lidando com escassez de gado devido à proibição das importações de animais vivos do México, decorrente da mosca-varejeira, um inseto parasita que está se alastrando ao sul da fronteira.
A tarifa diminuiria as importações de carne bovina do Brasil e obrigaria empresas a buscar suprimentos de outras nações, enquanto Trump expande sua disputa comercial global, afirmaram os especialistas.


“Se essa situação não for modificada, simplesmente cessaremos a importação de carne bovina brasileira para este país”, expressou Bob Chudy, consultor de companhias americanas que importam carne bovina. “Nenhuma libra será lucrativa nesses níveis.”
Os preços da carne bovina nos EUA atingiram níveis recordes este ano, e a produção está prevista para declinar 2%, totalizando 26,4 bilhões de libras, depois que os criadores reduziram o rebanho bovino do país ao menor tamanho em mais de sete décadas. Uma seca prolongada resultou na escassez de pastagens para o pastoreio, tornando a alimentação do gado muito cara para muitos produtores.
As indústrias alimentícias têm aumentado as importações em resposta. As compras de carne bovina brasileira pelos EUA mais que dobraram nos primeiros cinco meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2024, totalizando 175.063 toneladas, conforme os dados mais recentes do governo dos EUA. Isso representou 21% do total das importações norte-americanas.
Uma tarifa de 50% a partir de 1º de agosto elevaria a taxação sobre a carne bovina brasileira para cerca de 76% pelo restante do ano, de acordo com os analistas do setor pecuário.
“Isso está completamente paralisando as negociações hoje em dia”, comentou Chudy sobre a proposta. “Estamos indecisos como setor importador.”
Acréscimo em alimentos
Os consumidores americanos também estão enfrentando aumentos significativos nos preços de itens essenciais, como café e suco de laranja.
Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, depois da China, e as tarifas representam um aumento significativo em comparação à taxação de 10% anunciada por Trump em abril. A tarifa de 10% já começou a desacelerar as importações dos EUA de carne bovina brasileira em junho, conforme relataram os negociantes.
As empresas americanas importam carne magra do Brasil e de outras nações para misturá-la à produção interna na fabricação de carne de sanduíche. Até o momento, os consumidores têm demonstrado disposição para pagar preços elevados pela carne, mas a nova tarifa será um novo teste para essa demanda.
“Essa tarifa provavelmente aumentará o custo da carne bovina, um alimento essencial para muitos, logo após o Congresso votar a favor da redução da assistência alimentar aos consumidores mais necessitados”, informou Thomas Gremillion, diretor de política alimentar da Consumer Federation of America.
A tarifa obrigará os importadores a desembolsar mais pela carne bovina brasileira ou a procurar outros fornecedores, que são mais dispendiosos, afirmou Austin Schroeder, analista de commodities da Brugler Marketing & Management.
“Essa medida, de fato, contribui para o aumento de preços”, afirmou ele.
Os importadores de carne podem tentar aumentar as compras da Austrália, Argentina, Paraguai e Uruguai após a imposição das tarifas sobre os produtos brasileiros, segundo especialistas.
“Não esperem receber grandes quantidades de carne bovina brasileira”, informou Altin Kalo, economista-chefe do Steiner Consulting Group. “Essa é a situação atual.”
Fonte: Money Times