Existe incerteza quanto à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) nos dias 17 e 18 de junho. Conforme as Opções de Copom da B3, 48% dos investidores apostam na permanência da Selic, ao passo que 50% preveem um aumento de 0,25 ponto percentual (p.p.).
As organizações financeiras também divergem em relação à direção da taxa básica de juros. A Ativa Investimentos é uma das instituições que acredita que o Banco Central (BC) manterá os juros inalterados no atual nível de 14,75% ao ano.
O principal economista da companhia, Étore Sanchez, declara em entrevista ao Money Times, que os gerentes da autarquia já estariam “preparando o terreno” para encerrar o ciclo de aperto monetário.


Sanchez aponta como indício a desaceleração da elevação da Selic: após acréscimos de 1 p.p. nas três decisões anteriores, o último ajuste foi de 0,50 p.p.
Além disso, o BC passou a prever uma inflação mais “acomodatícias” para o atual horizonte relevante de política monetária, apesar de ter deixado margem para novos aumentos neste mês.
O prognóstico dos membros do Copom para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2026 diminuiu de 3,9% para 3,6%. “Nossa expectativa é que essa projeção condicional diminua ainda mais”, afirmou Sanchez.
O especialista ainda destaca o componente político como um fator de influência. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou no início deste mês que os juros continuam “muito altos”, porém acredita que o BC logo tomará a atitude “correta” e reduzirá os custos dos empréstimos.
Mesmo assim, Sanchez ressalta que não seria surpreendente se o Copom aumentasse a taxa em 0,25 p.p. e anunciasse o término do ciclo de aperto monetário. “Seria algo meramente residual. No que diz respeito aos impactos econômicos, estamos falando praticamente de nada”.
A Galapagos Capital, em contrapartida, defende que a autarquia deve realizar um aperto adicional na política monetária, elevando a Selic para 15% ao ano.
A economista-chefe da empresa, Tatiana Pinheiro, alega que o cenário de inflação continua desfavorável. “A inflação atual e as expectativas estão distantes da meta e os indicativos de atividade econômica demonstram uma economia sólida e resiliente — é muito semelhante ao cenário da decisão anterior”, comunicou ao Money Times.
Até o último registro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula elevação de 2,75% no ano e de 5,32% em 12 meses. Já as perspectivas para este e o próximo ano, segundo o Boletim Focus, estão em 5,44% e 4,50%, respectivamente.
Pinheiro também destaca que a economia internacional, principalmente relacionada às tarifas comerciais de Donald Trump, permanece incerta.
Postura ‘hawkish’ é consensual
Apesar das divergências em relação à decisão do Copom da próxima semana, ambas as empresas esperam que os gerentes indiquem o término do ciclo do aperto monetário já nesta reunião e mantenham os juros estáveis por um longo período.
“Eles vão incisivamente reforçar a estratégia do higher for longer“, declarou a economista da Galapagos.
Tanto Sanchez quanto Pinheiro acreditam que a autarquia deve manter um tom hawkish (duro) no comunicado, a fim de evitar a precificação prematura de um ciclo de redução da Selic.
“O Banco Central precisa não apenas interromper os juros com uma linguagem firme, mas também manter esse tom durante todo o período em que buscar a manutenção dos juros elevados”, afirmou o economista da Ativa.
“Quando um banco central suspende um ciclo de alta de juros, inicia-se a precificação do início do ciclo de redução”, disse Sanchez. “Para que a estratégia adotada pelo Banco Central seja minimamente bem-sucedida, ele terá que afastar expectativas de cortes de juros em um futuro próximo”.
Ambos concordam também que não deve haver divergências entre os gerentes do Copom na decisão, seja de manutenção ou aumento.
É prematuro falar em reduções da Selic?
Os especialistas afirmam que ainda é cedo para mencionar reduções da Selic, uma vez que o BC deve aguardar por um período prolongado.
De acordo com eles, a autarquia necessitaria observar uma convergência mais consistente da inflação para a meta, melhoria nas expectativas e enfraquecimento da atividade para iniciar o afrouxamento monetário.
A Ativa prevê que os gerentes comecem a reduzir os juros a partir de junho de 2026. A projeção da instituição é de que a taxa encerre o próximo ano em 11%.
Já a Galapagos vislumbra um primeiro corte de 0,50 p.p. em dezembro deste ano, o que levaria a Selic para 14,50%. O ciclo de afrouxamento deve prosseguir ao longo do primeiro semestre e terminar 2026 em 10,50%.
Fonte: Money Times