O Banco Inter atualizou suas previsões para a taxa de inflação e economia do Brasil, considerando o “alívio” que veio com a diminuição no conflito tarifário entre China e Estados Unidos (EUA), embora a situação ainda seja incerta.
De acordo com um relatório preparado pela principal economista, Rafaela Vitória, estima-se que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alcance 5,3% em 2025, em comparação com a previsão anterior de 5,4%. Para 2026, a projeção permanece em 4,4%.
No que diz respeito ao Produto Interno Bruto (PIB), a previsão para o primeiro trimestre de 2025 (1T25) é de um crescimento de 1,1%. Para o ano inteiro, a expectativa de crescimento econômico é de 1,8%, em vez da previsão anterior de 1,5%. Em 2026, a previsão de 2% foi mantida.


Quanto à previsão para o valor do dólar, a analista mencionou um cenário de “risco baixista”, com uma expectativa de um dólar a R$ 5,70 no final de 2025, em comparação com a previsão anterior de R$ 5,80.
Em relação à Taxa Selic, a previsão permanece em 14,75%, sinalizando uma possível pausa – que já havia sido indicada anteriormente – no ciclo de aperto monetário do Banco Central (BC).
IPCA a 5,3% e dólar a R$ 5,70 em 2025
Conforme o relatório, a economista sugere que a persistência na inflação de serviços continuará mantendo o IPCA acima da meta ao longo do ano.
No entanto, ela ressalta que essa tendência pode ser parcialmente contrabalançada pela possibilidade de uma redução na inflação de bens durante o segundo semestre, principalmente devido à queda nos preços dos combustíveis.
Em relação à Selic, devido ao nível atual de taxas de juros elevadas e a desaceleração global em andamento, juntamente com as primeiras revisões pessimistas das expectativas de inflação, a economista acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve interromper o ciclo de aumento a partir de junho.
“A volatilidade no cenário internacional e possíveis surpresas positivas na atividade econômica mantêm a possibilidade de um pequeno aumento de 0,25 p.p. em junho antes da pausa”, destaca. “A taxa de juros deste ciclo está claramente mais elevada, com um alto nível de desconfiança em relação ao ajuste fiscal ainda constante”.
Portanto, com a inflação acumulada em 12 meses atingindo o pico de 5,8% em agosto, o Banco Inter projeta que a Selic permanecerá em níveis elevados até o fim do ano, com a possibilidade de iniciar cortes apenas em dezembro.
“O processo de desinflação pode ser acelerado se o governo seguir uma política fiscal mais disciplinada nos próximos meses, reduzindo os estímulos à demanda, implementando as medidas de contenção de gastos aprovadas e anunciando cortes e bloqueios de despesas para cumprir a meta fiscal do ano”, afirma.
“Por outro lado, novos estímulos podem manter a inflação elevada, pressionar a taxa de câmbio e prolongar o aperto monetário”, completa.
Além da inflação e Selic: o que esperar da economia brasileira?
A revisão no PIB é resultado do crescimento mais forte do setor agropecuário, com uma previsão de aumento de 15% em relação ao mesmo período do ano anterior. Segundo o Banco Inter, esse setor deve ser o principal impulsionador do crescimento no 1º trimestre, atingindo 1,1% em comparação com o último trimestre de 2024 — um reflexo também do desempenho positivo das exportações.
Quanto ao setor de serviços, impulsionado pelo consumo das famílias, espera-se que continue desacelerando, apesar dos gastos fiscais ainda elevados. Ademais, o aumento real do salário mínimo, o avanço de programas sociais como BPC e Pé-de-Meia, além do mercado de trabalho robusto, deverão sustentar a demanda por serviços.
A economista salienta que a demanda permanece em território positivo, apesar da redução na oferta de crédito devido ao atual aperto monetário em vigor.
“O impacto do aumento da Selic será mais sentido na atividade doméstica no segundo semestre e, sem o mesmo desempenho do setor agropecuário, o PIB tende a estagnar na segunda metade do ano”, destaca.
Vitoria menciona que o risco de um crescimento mais forte está ligado a um possível aumento nos gastos fiscais, mantendo o mercado de trabalho aquecido. No entanto, uma desaceleração significativa na economia global pode afetar os preços das commodities e a produção industrial. “Isso poderia resultar em uma contração no PIB no segundo semestre”, observa.
Adicionalmente, com os custos da dívida em alta, o déficit nominal provavelmente ultrapassará R$ 1 trilhão em 2025 e excederá 8% do PIB. Isso ocorre devido à inflação acima da meta e à necessidade de manter taxas de juros elevadas por um longo período, o que tem elevado rapidamente os custos da dívida – tornando o ajuste futuro ainda mais oneroso.
“A abordagem fiscal focada no aumento de receitas falhou ao não estabelecer controles mais rígidos sobre os gastos, especialmente no que diz respeito à vinculação e indexação de programas sociais ao salário mínimo, que voltou a ser reajustado acima da inflação nos últimos 3 anos”, pondera.
E a economia americana? Redução das tarifas ‘traz alívio’
No último dia 12, a disputa tarifária entre EUA e China “deu trégua”, com os estadunidenses reduzindo as taxas sobre os produtos chineses de 145% para 30%, enquanto a China diminuiu as taxas sobre os produtos americanos para 10%.
Comparado ao cenário anterior, o Banco Inter destaca que isso representou uma redução considerável da incerteza – e foi prontamente bem recebido pelos mercados, com o mercado de ações dos EUA subindo 5,4% entre os dias 9 e 19 de maio.
“Apesar disso, os efeitos da incerteza observada em abril ainda podem ser sentidos na economia. Dado o atual padrão de comércio entre os dois países, as tarifas existentes, somadas às tarifas em vigor de períodos anteriores, podem representar um custo de 1,5 ponto percentual do PIB, o que tem potencial para desacelerar a economia”, destaca a economista.
No entanto, a analista ressalta que os indicadores econômicos dos EUA ainda apontam para uma resiliência. Isso ocorre porque, apesar da queda de 0,3% no PIB do 1º trimestre, o indicador ainda está dentro de um panorama robusto, com grande parte da contração sendo atribuída a componentes voláteis influenciados pelo comportamento anticipatório frente ao impacto das tarifas.
“Por outro lado, o índice de preços em abril não reflete o efeito do aumento das tarifas, por enquanto”, ela diz. “Observou-se uma inflação abaixo do esperado, seguindo a tendência de declínio dos últimos meses. Contudo, é importante considerar a rigidez dos preços e o acúmulo de estoques, que podem apenas ter postergado o repasse dos custos tarifários”, completa.
Nesse contexto, os dados do mercado de trabalho continuam sugerindo uma situação saudável para o emprego nos EUA, sem sinais de demissões ou desaceleração na taxa de contratação.
Entretanto, o Banco Inter vê o panorama para a política monetária americana como “muito incerto”, e a redução nas tarifas é uma “boa notícia”. No entanto, a analista adverte que ainda não é possível mensurar o impacto sobre o crescimento e a inflação.
Considerando que a política monetária se encontra em equilíbrio, a melhor abordagem para o Fed é aguardar.
“Mantemos a visão de que o Fed só retomará o ciclo de redução quando estiver mais confiante de que o impacto inflacionário das tarifas não será relevante ou quando o mercado de trabalho desacelerar de maneira significativa”, ela afirma. “Nossa expectativa é de que essa confiança só se concretize no segundo semestre, com as reduções começando a partir da reunião de setembro”, finaliza.
Fonte: Money Times