O adiantamento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) foi um pouco acima das previsões. No mês de julho, o índice cresceu 0,33%, em comparação com uma expectativa de elevação de 0,31%. Apesar do resultado acima do aguardado, os analistas não se mostraram preocupados.
A percepção predominante é que o avanço não modifica de maneira expressiva o quadro de curto prazo da inflação. A estrutura do índice continua sendo considerada favorável, com os principais núcleos apresentando desaceleração.
De acordo com Carlos Thadeu, analista de inflação e commodities da BGC Liquidez, a configuração do índice indica indícios de alívio recente, isto é, nos dados mais atuais, com núcleos e grupos essenciais da inflação apontando desaceleração.


Parte da elevação do IPCA-15 foi impactada por itens específicos e voláteis, como passagens aéreas e transporte por aplicativos, que tendem a ter variações instáveis e não representam uma tendência sustentada da inflação. Por outro lado, os elementos mais relevantes para a dinâmica da inflação — como serviços essenciais, produtos industriais e núcleos — mostraram desaceleração, indicando um enfraquecimento da inflação subjacente.
Étore Sanchez, especialista-chefe da Ativa Investimentos, também destaca o aumento das passagens aéreas, que subiram 19,86%, significativamente acima da previsão da empresa, de 11,05%. Houve ainda surpresa no setor de cuidados pessoais, que teve um acréscimo de 0,21%, em vez de uma expectativa de queda de preços.
Por outro lado, o fornecimento de eletricidade e vestuário ficou aquém do previsto, contribuindo para controlar o índice completo.
“A média dos núcleos manteve-se estável, com uma variação de 0,30%, em relação à nossa estimativa de 0,29%. Na análise dos serviços, como as passagens aéreas foram subestimadas, a média também apresentou um desvio considerável para cima. Ao avaliar os serviços essenciais, observamos uma variação muito próxima: 0,45% versus os 0,47% projetados”, afirmou.
Sanchez também destaca a significativa redução na diversificação da inflação — ou seja, no número de itens com aumento de preços. Essa taxa caiu de cerca de 60% para perto de 50%, quebrando a média dos últimos 12 meses. Na prática, isso indica que a inflação se dispersou menos entre os diferentes produtos e serviços da cesta. Quando menos itens aumentam ao mesmo tempo, a pressão inflacionária tende a ser mais limitada e menos persistente — o que é um sinal positivo para o controle da inflação a médio prazo.
Já Ariane Benedito, principal economista do PicPay, destaca que, apesar da pequena melhora no panorama de riscos, a inclinação para a inflação permanece alta.
Entre os elementos tranquilizadores, ela menciona a desaceleração da economia global e a estabilidade nos valores das commodities. No que diz respeito aos riscos, destacam-se a desvinculação das expectativas de inflação, a persistência das pressões nos serviços — diante de um mercado de trabalho ainda aquecido — e a incerteza fiscal, que pode pressionar o câmbio.
Fonte: Money Times