A XP Investimentos estima que o crescimento econômico brasileiro pode ser 0,3 ponto percentual menor em 2025 devido à imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos do Brasil anunciada por Donald Trump, resultando em uma redução do PIB de 2,5% para 2,2%.
Segundo a análise da empresa, a diminuição em 2026 seria de 0,5 ponto, com a expectativa passando de 1,7% para 1,2%.
No pronunciamento feito nesta quinta-feira (10), Caio Megale, principal economista da corretora, explicou que os impactos da taxação devem afetar principalmente as exportações de produtos manufaturados.



“O Brasil vende cerca de 12% do total para os Estados Unidos, com metade em itens básicos e metade em manufaturados”, declarou, esclarecendo que os produtos básicos podem ser redirecionados para outros mercados com certa facilidade.
“Se não for possível exportar suco de laranja para os EUA, por exemplo, é viável enviar para outro lugar ou consumir internamente. Isso torna a realocação mais simples”.
Já os produtos manufaturados — como vestuário, mobiliário e adereços — serão, conforme mencionado por ele, diretamente prejudicados.
“Uma tarifa de 50% inviabiliza o produto. Quem adquire esses itens do Brasil dificilmente aceitará pagar uma taxa tão elevada. Procurarão fornecedores em outros países”, afirmou.
O economista-chefe da XP espera que, ao longo do tempo, essas exportações cheguem próximas a zero. “Não zera imediatamente, mas tem um impacto”.
Adicionalmente, Megale destacou que nos próximos dias pode ocorrer uma antecipação nos embarques para os EUA, visto que a entrada em vigor da tarifa está agendada para 1º de agosto, suavizando o impacto imediato.
Consequências indiretas
Além do impacto direto no comércio exterior, Caio destacou os efeitos indiretos da medida. “Observamos a desvalorização cambial, o aumento das taxas de juros de longo prazo, além do aumento da incerteza”, declarou.
Ele explicou que esse ambiente mais instável tende a desacelerar as decisões de investimento e consumo.
“A elevação da incerteza leva empresas e consumidores a ficarem mais cautelosos e a reduzirem o ritmo. Esses fatores ajudam a justificar a revisão das projeções para o PIB deste ano e do próximo”.
Risco de represálias e inflação
Outra preocupação levantada por Megale é a possibilidade de retaliação por parte do governo brasileiro.
Segundo ele, se o Brasil implementar tarifas sobre produtos importados dos Estados Unidos — como remédios, insumos químicos e combustíveis —, pode haver um impacto inflacionário, ainda que de forma limitada.
“Caso haja represálias, podemos enfrentar maior pressão inflacionária, apesar de ser em escala reduzida, uma vez que importamos muitos itens também da China e de outros países”, ponderou.
‘O BC deve adotar, no mínimo, uma postura mais conservadora’
Diante desse cenário mais incerto, o economista acredita que o Banco Central deve adotar uma postura mais conservadora na condução da política monetária.
“O BC deve ser, no mínimo, mais conservador”, afirmou, enfatizando que o plano básico da XP é iniciar o ciclo de cortes na Selic no início de 2026 — um cenário reforçado com o anúncio da taxação.
“A tarifa de 50% me leva a considerar janeiro de forma mais segura. Antes, com a melhora da inflação, havia a possibilidade de o Copom antecipar cortes para dezembro ou novembro. Agora, o ambiente favorece uma abordagem mais cautelosa”, disse.
A previsão da XP é de que a taxa Selic diminua gradualmente até atingir 12,5% ao longo de 2026.
Fonte: Money Times