A recente Medida Provisória (MP) divulgada pelo governo nessa quinta-feira (12) deverá aumentar o custo da fabricação de alimentos. A medida provisória estabelece o término da isenção de Imposto de Renda para aplicações de renda fixa como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs).
Ainda que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), responsável pelo cálculo da inflação oficial do Brasil, tenha mostrado desaceleração nos preços de alimentos e bebidas em maio, o custo continua elevado para os produtores, devido ao aumento do custo da mão de obra, fertilizantes e flutuações cambiais.
De acordo com Juliana Inhasz, especialista em economia pela USP e docente do Insper, o cenário traz certo alívio para o consumidor, porém a nova medida governamental pode resultar em aumento de preços no médio ou longo prazo.



“Apesar das declarações do Ministro da Agricultura dizendo o contrário, essa tributação sobre LCAs e CRAs tende a encarecer o crédito no segmento. O momento é desafiador para alguns produtores, pois observamos preços em queda devido ao excesso de oferta e demanda reduzida, ao passo que os custos de produção aumentam”, destaca.
A especialista enfatiza que cada produto apresenta particularidades sazonais que podem influenciar momentos de alta ou baixa nos preços, juntamente com fatores climáticos que são motivo de preocupação constante.
Quais fatores impactam a inflação dos alimentos?
A variação nos preços dos alimentos foi um tema amplamente debatido no Governo Federal, especialmente devido à queda na popularidade do presidente Lula. Entretanto, dados do último mês indicam uma fase de estabilidade nos preços.
A redução no IPCA, de 0,26% em maio, surpreendeu parte dos economistas. O setor de alimentação e bebidas registrou sua menor variação desde agosto de 2024, com um aumento de apenas 0,17% no mês.
Inhasz destaca a relevância desse setor dentro do IPCA, principalmente para famílias de menor poder aquisitivo. As quedas nos preços do tomate (-13,5%), do feijão preto (-4,5%), do arroz (-4%), dos ovos de galinha (-3,98%) e das frutas (-1,67%) foram os principais destaques do mês.
A pesquisadora atribui a queda de preços da maioria dos produtos a uma maior oferta, devido à melhoria nas condições climáticas. Algumas frutas, por exemplo, se beneficiam da sazonalidade. Conforme Inhasz, o clima mais frio favorece a produção de certos produtos, resultando em uma oferta mais ampla.
No caso do tomate, encontrado em alta na temporada de inverno, sua rápida deterioração pressiona as vendas, levando a uma redução nos preços. Além disso, houve um aumento na demanda, que vinha baixa devido aos preços elevados nos últimos tempos.
Já em relação ao arroz e feijão, de demanda mais estável, o principal fator para a redução de preços é uma safra consideravelmente maior do que no ano anterior, o que também aumenta a oferta e mantém os preços baixos.
No caso dos ovos e peixes, o período da quaresma e semana santa impulsiona a demanda, resultando em aumento tradicional nos preços. A situação da gripe aviária também beneficiou os ovos, com restrições nas importações aumentando a oferta interna.
Mesmo com a diminuição em maio, os preços dos ovos de galinha subiram 24,8% no acumulado do ano, figurando entre os maiores aumentos no período. O acréscimo nos custos de produção, incluindo energia elétrica e transporte, contribuíram para o aumento dos preços.
Dentre os alimentos com maiores aumentos estão o maracujá (17%), o morango (13,8), a batata-inglesa (10,3%), a cebola (10,3%), o café torrado (4,6%) e as carnes (0,97%). Nos últimos 12 meses, o café apresentou aumento de 82% e lidera os aumentos no ano.
“O café tem estado em alta devido às consideráveis reduções na safra no Brasil e no principal produtor, que é o Vietnã, causadas por problemas climáticos, resultando em uma diminuição na oferta global do produto”, explica Inhasz.
A pesquisadora acredita que os preços dessa commodity devem permanecer elevados, uma vez que, mesmo que haja indicativos de recuperação na safra, o café é negociado no mercado futuro. Como os contratos foram firmados com preços mais altos, a tendência é de que os valores continuem em alta.
Fonte: Money Times