O secretário da Economia, Alexandre Haddad, comunicou nesta-quinta-feira (28), em São Paulo, que o governo não planeja alterar as diretrizes estabelecidas pelo aparato financeiro, que estabelece um limite e um controle de despesas.
“Nós não temos intenção de modificar o formato da política [econômica]. Ao meu ver, essa é uma junção benéfica entre uma meta de déficit primário associada com uma norma de gastos”, expressou o secretário durante a Conferência Arko, realizada na sede da Galápagos Capital, em São Paulo.
“Estamos nos referindo a uma economia que responde e que tem respondido bem às políticas públicas que estão sendo implementadas e a grande mensagem que queremos passar é que o Brasil tem capacidade de crescer a índices próximos à média global, sem grandes pressões externas”, afirmou Haddad. “Estamos avançando de maneira satisfatória, com uma média de 3,3%”, salientou.



“Percebemos que, devido às pressões, reduzimos um pouco a velocidade do crescimento, porém nada semelhante ao que ocorre em outros países, quando são realizados ajustes severos e recessivos, que acabam prejudicando o rumo da própria dívida devido ao déficit que se abre nas contas públicas. Entendemos que a maneira mais adequada de reconstruir o superávit primário é o caminho da ponderação”, completou.
Conforme Haddad, essa estratégia econômica será mantida pelo governo sem “medidas extravagantes” e com finalidade eleitoral. “Não vamos criar nada inovador. Não é do estilo do presidente Lula criar algo fora do comum por motivos eleitorais. Ele fará o que está convencido que deve fazer”, afirmou..
O secretário da Economia reforçou que o governo continua comprometido em buscar as metas fiscais e afirmou que a taxa de juros do país, que está em sua visão “extremamente restritiva”, cumprirá o papel de controlar a inflação e desacelerar a economia. “Não vejo motivos para surpresa. Iremos seguir com nossa política, atingindo as metas, buscando as metas e compreendendo que este é o caminho”.
Caged
No decorrer do evento, o secretário comentou os dados referentes ao Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), publicados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, e que indicaram a criação de mais de 431 mil postos formais de trabalho em fevereiro.
Segundo ele, esse resultado não indica aquecimento na economia, como tem sido especulado e temido pelo mercado, mas seria uma consequência da expectativa de uma excelente safra neste ano.
“As pessoas precisam recordar que quando há uma grande safra, em fevereiro ou março, faz-se muitas contratações. Logo haverá uma safra para ser transportada em poucos meses, resultando em uma grande quantidade de contratações para transporte e mão de obra, é assim que ocorre no Brasil”, esclareceu.
Desvalorização do dólar
Ao abordar os investidores, o secretário também falou sobre sua previsão de ocorrer uma desvalorização global do dólar neste ano, em meio às reformas em andamento pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Posso me enganar no timing, mas é improvável que esteja errado na ideia principal. Não consigo visualizar equilíbrio na economia americana sem uma desvalorização do dólar. É difícil enxergar onde o equilíbrio surgirá sem o dólar passar por um processo de desvalorização. Não acredito que tarifas resolverão a situação. Não creio que tarifas sejam a solução. Aliás, entendo que as tarifas possam agravar a situação”, afirmou.
Se isso se concretizar, ressaltou Haddad, a tarefa do Banco Central em conter a inflação poderá se tornar mais simples.
“Talvez consigamos enxergar, já neste ano, uma desvalorização do dólar, mesmo que a taxa de juros não caia tanto quanto esperado. Se isso se confirmar, aliviará a pressão sobre o Banco Central. A cobrança sobre o Banco Central será reduzida e poderemos ver uma reorganização”, mencionou.
Tarcísio
Haddad também abordou o julgamento do ex-presidente da República Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). Durante a manhã, no mesmo evento em que participou, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, havia mencionado que o julgamento corria o risco de se tornar uma “bagunça institucional” e que isso poderia ocupar o espaço de outras pautas importantes, prejudicando o progresso do país.
Em resposta, o secretário da Economia declarou que ele e o governador de São Paulo têm opiniões bastante distintas sobre o assunto. “Há uma diferença de mentalidade. Para mim, essa discussão é relevante. Não considero inadequado julgar um presidente que tenha adotado a postura que Bolsonaro teve. Talvez para Tarcísio, a garantia do ambiente democrático não seja relevante ou seja, já que desconheço a opinião dele sobre a ditadura militar até hoje”, declarou.
“Acredito que ele deva ser a favor, devido à formação e proximidade que tem com Bolsonaro. Contudo, para mim, que sou professor de ciência política, a liberdade é a questão mais importante. Nada supera a importância da liberdade de cada cidadão brasileiro. Nada. Viver sob uma ditadura é algo sério”, concluiu.
Para o secretário da Economia, o julgamento de Bolsonaro pelo crime de tentativa de golpe no Brasil é fundamental para o país e não desviará a atenção do governo de sua agenda econômica.
“Para mim, desvio de foco é o que eles realizam nas redes sociais, disseminando informações falsas o tempo todo, inventando fake news, fabricando coisas. Para mim, é crucial debater as atitudes das pessoas, especialmente aqueles investidos nos cargos de ministro, presidente, governador. Me parece inapropriado tentar encobrir o que aconteceu no Brasil. Isso é extremamente grave e não vejo como algo que possa desviar a atenção de algo”, ressaltou.
Crédito consignado
Em uma conversa com jornalistas após participar do evento na capital paulista, Haddad comentou também sobre o consignado privado. Segundo o secretário, o grande interesse pelo consignado privado observado nos últimos dias não indica um aumento no endividamento, mas sim que as pessoas têm buscado essa alternativa para trocar uma dívida já existente por uma taxa mais baixa.
“Claro que o trabalhador que não tem dívida, também irá buscar o consignado. Se desejar fazer uma compra, terá à sua disposição uma taxa razoável. Isso também ocorrerá. No entanto, no momento, existe uma demanda significativa por substituição de dívida. Alguns estão com dívidas elevadas, com taxas muito altas”, explicou.
De acordo com ele, a proposta do consignado privado, elaborada pelo atual governo, tem o intuito de “amparar o trabalhador que possui uma dívida alta”.
>>Descubra como funcionará o crédito consignado CLT
“É muito habitual que pessoas que estão com um empréstimo e pagando uma parcela bastante elevada devido à taxa de juros, recorram agora ao sistema bancário para trocar a dívida de 5% ou 6% [de juros] ao mês por algo inferior a 3%”, afirmou.
“O consignado privado foi desenvolvido com esse propósito, para amparar o trabalhador que tem uma dívida dispendiosa. Às vezes essa dívida nem é com um banco, pode ser até com um agiota. E a pessoa está saindo do agiota”, acrescentou.
Fonte: Agência Brasil