Empresas chinesas JD.com e Ant Group, vinculada à Alibaba, estão solicitando ao banco central da China a aprovação de stablecoins apoiadas pelo Yuan, para contrapor a crescente influência de criptomoedas vinculadas ao Dólar americano, informaram fontes próximas às conversas.
Tais companhias propõem que a China permita a emissão de stablecoins em Hong Kong, lastreadas no yuan offshore — negociado fora do continente, principalmente em Hong Kong, mas também em Londres, Cingapura e Nova York —, com o intuito de impulsionar a adoção global da moeda chinesa e conter a crescente predominância digital do dólar, afirmaram as fontes.
Essas iniciativas surgem em meio à competição entre Hong Kong e os Estados Unidos na estipulação de um arcabouço regulatório para stablecoins, visando ampliar sua presença nos sistemas financeiros e comerciais digitais globais.


Caso sejam bem-sucedidos, os esforços de advocacia representariam uma alteração marcante na percepção das criptomoedas pelo governo chinês — que foram proibidas em 2021 — e poderiam remodelar a estratégia da China para fomentar o uso internacional do yuan.
Stablecoins são tokens digitais, sob a forma de criptomoedas, lastreados em ativos líquidos — até o momento, predominantemente vinculados ao dólar americano, mas também, em casos isolados, a ouro ou outras moedas.
A tecnologia subjacente, blockchain, possibilita transferências instantâneas, sem fronteiras e contínuas, com custos reduzidos, promovendo o potencial para desestabilizar os métodos tradicionais de pagamentos transfronteiriços.
Tanto JD.com quanto Ant planejam lançar em breve stablecoins amparadas no dólar de Hong Kong, após a promulgação da nova legislação na ilha em 1º de agosto.
Entretanto, durante reuniões confidenciais com o Banco Popular da China (PBOC), a JD.com argumentou que stablecoins lastreadas no yuan offshore são essenciais para promover a internacionalização da moeda chinesa, relataram as fontes à Reuters.
Essa perspectiva também foi compartilhada por outros agentes do setor.
“A expansão das stablecoins globais em dólar traz novos desafios para a internacionalização do yuan,” afirmou Wang Yongli, co-presidente do Digital China Information Service Group, em um artigo publicado em suas redes sociais no mês anterior.
“Seria um risco estratégico se os pagamentos em yuan no exterior não forem tão eficazes quanto as stablecoins em dólar,” acrescentou Wang, ex-vice-presidente do Banco da China.
O PBOC, JD.com e Ant não responderam de imediato aos pedidos de comentários feitos pela Reuters.
Dólar lidera o mercado
O mercado global de stablecoins ainda é reduzido, totalizando cerca de US$ 247 bilhões, conforme a fornecedora de dados cripto CoinGecko. Contudo, o banco Standard Chartered prevê que esse montante possa alcançar US$ 2 trilhões até 2028.
Mais de 99% das stablecoins estão cotadas em dólar americano, conforme o Banco de Compensações Internacionais (BIS).
A China há muito aspira que o yuan se torne uma moeda internacional, à semelhança do euro ou do dólar, refletindo sua relevância como segunda maior economia do mundo.
Entretanto, um dos desafios para esse propósito é a falta de disposição de Pequim em flexibilizar os rígidos controles de capitais. A participação do yuan como moeda de pagamento global declinou para 2,89% em maio, atingindo o nível mais baixo em cerca de dois anos, conforme a plataforma de pagamentos SWIFT. Nesse mesmo período, o dólar domina com 48,46% do mercado.
“A China chegou a um ponto em que não pode mais postergar uma decisão,” declarou Xiao Feng, líder da exchange cripto sediada em Hong Kong, HashKey.
Vários exportadores chineses têm optado por utilizar stablecoins em dólar, pois “cada vez mais empresas estrangeiras estão realizando transações com pagamentos em USDT”, mencionou, se referindo ao Tether, a stablecoin mais popular do mundo.
Diversos exportadores entrevistados pela Reuters indicaram que os controles de capital domésticos, as tensões geopolíticas e os riscos de flutuações cambiais em mercados emergentes menores têm impulsionado a transição para stablecoins.
A Crypto HK, principal corretora de balcão (OTC) de criptomoedas em Hong Kong, mencionou que o volume mensal de negociações do token USDT por parte de seus clientes chineses, para fins de liquidação comercial, incrementou em cinco vezes desde 2021.
Fonte: Money Times