A Taxa Selic atingiu um nível restritivo, mas ainda não alcançou um patamar excepcional, de acordo com o diretor de macroeconomia do ASA e ex-chefe de política econômica do Banco Central (2019 a 2021), Fabio Kanczuk.
Em uma entrevista ao Money Times, o economista menciona que, com uma taxa real de juros em torno de 9%, a taxa básica de juros de 14,75% ao ano começará a ter impacto na atividade econômica. Todavia, o atual nível ainda não é suficiente para levar a inflação rumo à meta de 3%.
“Finalmente, chegamos a uma situação na qual os juros devem começar a influenciar a economia. Porém, será isso eficaz para a missão do Banco Central de alcançar a meta de inflação? Sou cético, seria necessário manter [os juros em nível restritivo] por um período tão extenso que o BC não conseguiria”, ele comenta.


“Tornar-se-ia inviável, tanto economicamente quanto politicamente, manter os juros nesse patamar por um longo prazo. Seria preciso deixá-los nesse ponto por 2 ou 3 anos, o que vejo como improvável”.
De acordo com Kanczuk, a pressão de Brasília e de Faria Lima provavelmente resultará em uma antecipação da flexibilização da política monetária, já que a atual diretoria do BC é considerada mais “maleável”.
“Essa pressão acaba por alterar o pensamento do Banco Central. Muitos bancos centrais possuem diretores com convicções fortes – eu era um deles. Você pode ouvir 30 mil opiniões opostas, mas sua convicção permanece. Contudo, o atual Banco Central tem convicções muito frágeis, é mais maleável”.
O economista argumenta que o Brasil necessita de um “choque” monetário para reduzir a inflação para 3%.
“Minha estratégia seria a seguinte: eu aumentaria a Selic em 0,25 p.p. [em cada reunião] – chegando a 14%, em seguida para 14,25%, depois 14,50% e posteriormente 14,75%. Dessa forma, veríamos a inflação e as expectativas diminuindo, a atividade econômica desacelerando e o desemprego aumentando”.
Kanczuk avalia que, quando a Taxa Selic atingisse 18%, a economia estaria em um estado preocupante.
“Um choque é algo que pode parecer louco. Não é bom parecer insano, mas talvez isso seja necessário [para o Brasil]”, ele conclui.
Fonte: Money Times