De produtos infantis a calçados e fraldas, os artigos de consumo estão no centro de várias estratégias das corporações para suavizar o efeito das taxas dos Estados Unidos – de acordo com a capacidade financeira de seus clientes.
A marca Adidas afirmou que poderá introduzir novos itens com valores superiores nos EUA, a Levi Strauss irá diminuir as ofertas promocionais, e a gigante do ramo de embalagens Procter & Gamble começará a implementar incrementos de preços já na próxima semana.
Diversas das principais corporações do mundo estão alertando há vários meses, desde os anúncios de tarifas feitos por Donald Trump em 2 de abril (“Dia da Independência”), que seriam impactadas por pesadas taxas alfandegárias.
Neste momento, essas companhias estão elucidando como estão modificando suas operações para tentar atenuar o impacto do aumento nos custos, da incerteza nas políticas comerciais dos EUA e da queda na confiança do comprador final.
As distintas abordagens refletem uma crescente divisão sobre quanto cada empresa acredita ser capaz de transferir ao consumidor sem prejudicar suas vendas.
Os clientes, principalmente aqueles que já enfrentam restrições orçamentárias em meio à instabilidade econômica e geopolítica, podem hesitar em pagar mais por produtos cotidianos, enquanto consumidores de renda média e alta podem estar mais inclinados a desembolsar em itens mais dispendiosos e opcionais.
“As tarifas funcionam como um imposto regressivo sobre os gastos das famílias, pesando proporcionalmente mais sobre as despesas de famílias de renda baixa e média do que sobre as de renda elevada”, comunicaram especialistas do Morgan Stanley em comunicado.
A companhia francesa de cosméticos L’Oreal ainda não ajustou os valores para se adequar às tarifas, porém o CEO Nicolas Hieronimus está reexaminando seu vasto portfólio de fragrâncias Valentino a cremes faciais La Roche-Posay para avaliar o que os consumidores suportariam em termos de acréscimo.
“Ainda estamos avaliando todas as opções, e também aguardando a situação se acalmar. Existe algum poder de precificação em perfumes, porém também precisamos levar em conta a elasticidade da demanda, então veremos como lidamos com essa questão”, mencionou Hieronimus.
De acordo com o monitor global de tarifas da Reuters, pelo menos 92 das quase 300 empresas monitoradas anunciaram elevações de preços em resposta à guerra comercial, sendo cerca de um terço delas do setor de consumo.
Algumas empresas de luxo podem ter um pouco mais de margem. A Hermes, produtora das bolsas Birkin, aumentou seus preços em 7% mundialmente, com um adicional de 5% nos EUA, onde afirmou que repassaria integralmente os efeitos das tarifas aos clientes.
Porsche e Aston Martin revelaram pequenas elevações de preços nos EUA, porém as notícias vieram acompanhadas de alertas de lucratividade, o que destaca a fragilidade do mercado.
“Esta não é uma situação passageira”, comentou o CEO da Porsche, Oliver Blume.
Tão baixo quanto possível
A fabricante de brinquedos Mattel Inc comunicou em maio que elevaria os preços de alguns produtos nos EUA. Na semana passada, o diretor financeiro Paul Ruh informou que tais incrementos já foram aplicados e que não prevê novos ajustes neste ano.
“Nossa meta é manter os valores o mais reduzidos possível para os consumidores”, afirmou ele.
A Adidas, cuja linha de calçados Samba começa em US$ 100 no site dos EUA, reavaliará seus preços e decidirá quais produtos terão acréscimo no país assim que as tarifas forem definidas, mencionou o CEO Bjorn Gulden nesta quarta-feira (30). Ele não especificou o potencial de aumento nos valores.
“É mais simples elevar o preço de um produto novo que ninguém conhece do que de um produto que já está presente”, contou ele aos analistas.
No entanto, ele alertou sobre os perigos de exagerar nos aumentos de preços, considerando o cenário incerto do comércio internacional e a descrição de um consumidor “um tanto desanimado em muitos setores”.
As ações da Adidas caíram mais de 11% nesta quarta-feira, alcançando os patamares mais baixos desde fevereiro de 2024, com os investidores preocupados com a estratégia da empresa em um momento de fragilidade da confiança do comprador final e alta sensibilidade aos preços.
“Acredito que é extremamente importante não abandonar os produtos de faixa de preço mais baixa pensando que é factível simplesmente elevar os preços e aceitar vender menos volume”, revelou Gulden aos analistas.
Fonte: Money Times