O índice de preços no Brasil dá indícios de que está mudando, afirma o principal economista do Banco Daycoval, Rafael Cardoso. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho cresceu 0,24%, quase igual à projeção inicial do banco, de 0,23%.
Os principais efeitos do índice foram como esperado, especialmente a queda nos preços dos alimentos, impulsionada pela redução nos preços das carnes. Quanto aos preços administrados, as movimentações seguiram conforme o esperado: “prevíamos a diminuição dos preços da gasolina e também antecipávamos o impacto significativo da energia elétrica na alta dos preços.”
Houve também uma maior pressão nos serviços, especialmente em produtos relacionados ao mercado de trabalho. “Os valores vieram um pouco acima do que esperávamos, porém nada significativo. Não tem grandes implicações para nosso cenário”, menciona Cardoso.



No setor produtivo, o economista identificou certa influência do câmbio, embora em menor proporção do que era previsto. “Observamos algum efeito do câmbio, porém muito mais moderado do que se imaginava anteriormente.”
Mesmo assim, ele reitera que as surpresas não modificam a avaliação principal: “a variação de preços segue mudando. O valor principal engana, pois é muito baixo devido à sazonalidade, porém isso continua ocorrendo”.
Cardoso também ressaltou que os dados corroboram a previsão do Daycoval de 5,1% para a inflação em 2025. “O dado atual está alinhado com nossa estimativa e, portanto, não indica ajustes.”
Segundo sua análise, a dinâmica inflacionária será diferente nos dois semestres de 2024, com uma tendência de desaceleração à frente. “Este ano terá duas fases distintas. O primeiro semestre, tanto em atividade quanto em inflação, é mais intenso”, declarou, mencionando o desempenho do agronegócio e a resistência do mercado de trabalho.
Já para o segundo semestre, prevê-se que a valorização do câmbio e uma atividade econômica menos aquecida comecem a ser refletidas nos preços. “No segundo semestre veremos mais o impacto da taxa de câmbio em um nível mais estável e uma atividade econômica que tende a reduzir.”
Mesmo com a inflação ainda elevada, o economista aposta na continuidade da tendência de desaceleração: “A situação atual não é favorável, mas como percebemos que o câmbio está mais valorizado e há indícios de desaceleração, acreditamos que essa mudança continuará no futuro.”
O que a variação de preços de junho sugere para o BC?
O principal economista do Daycoval argumenta que os números da inflação de junho reforçam a ideia de que a queda na inflação está acontecendo, mas ainda não garantem ao Banco Central que os próximos dados serão consistentemente melhores.
“Os dados não trazem informações novas, mas confirmam que talvez o pior momento da situação inflacionária tenha passado”, declarou.
Na visão de Cardoso, os indícios de desaceleração do IPCA e da menor dinâmica da atividade econômica ao longo do segundo semestre fortalecem a perspectiva de que o BC terá condições, mais adiante, de iniciar o ciclo de redução da taxa de juros.
Entretanto, ele destaca que a autoridade monetária ainda está condicionada a uma terceira variável crucial para poder reduzir a Selic: o comportamento das expectativas de inflação.
“As expectativas são cruciais. Caso não surjam boas surpresas no âmbito fiscal – o que não acreditamos que ocorrerá –, essas expectativas continuarão ancoradas principalmente na inflação atual e na percepção que os agentes têm da atividade”, explicou.
Segundo ele, o banco prevê o início dos cortes de juros somente no primeiro trimestre de 2026.
Fonte: Money Times