O Comitê de Política Monetária (Copom) tem a perspectiva de manter a Selic constante em 14,75% ao ano nesta semana, porém não planeja encerrar o ciclo de restrição. É a opinião do principal economista do Bradesco Asset, Marcelo Toledo.
Segundo Toledo, em conversa com o Money Times, existe uma chance de 70% da Selic em seu patamar atual ser capaz de resultar em uma redução gradual da inflação com o tempo.
Entretanto, seria precipitado concluir o ciclo agora, visto que o risco ainda é desigual: a atividade econômica indica poucos sinais de desaceleração relevante e o mercado de trabalho permanece aquecido, o que pode complicar a convergência da inflação.



O economista observa melhorias em variáveis como o câmbio e o contexto internacional desde a última reunião do Copom, o que reduz incertezas a curto prazo. Apesar disso, o enfoque da autoridade monetária, segundo Toledo, está nos fundamentos nacionais. E, nessa situação, a elevação atual da inflação ainda não indica uma tendência clara, enquanto ações de estímulo fiscal e parafiscal estão em andamento.
O tom do comunicado do órgão, portanto, provavelmente permanecerá firme, afastando qualquer sugestão de início de afrouxamento monetário. Para o Bradesco Asset, os cortes na Selic devem iniciar somente no segundo trimestre de 2026, em um ritmo bastante cuidadoso.
Confira a entrevista com o principal economista do Bradesco Asset
Money Times: Qual a expectativa do Bradesco Asset para a reunião do Copom de junho?
Marcelo Toledo: Nossa previsão para este próximo Copom é manter as taxas. As últimas comunicações do Banco Central indicam que ele tem liberdade para decidir — tanto o último comunicado e a ata como as entrevistas, especialmente do presidente do BC, sugerem que a próxima reunião está em aberto.
Acreditamos que há boas chances da Selic a 14,75%, se mantida por um período extenso, reduzir a inflação. Não esperamos alcançar os 3% de inflação no próximo ano ou no início de 2027, deslocando assim o horizonte relevante nos próximos meses, mas isso é suficiente para resultar em uma redução gradual. Dificilmente a meta será atingida neste ciclo.
Money Times: O que levaria o Banco Central a manter as taxas de juros inalteradas?
Toledo: Comparado ao último Copom, em 7 de maio, houve uma valorização do câmbio — de R$ 5,70 para R$ 5,55. Também ocorreu a perda de força do dólar global, sem recuperação.
Além disso, o Banco Central destacou a grande incerteza internacional em maio, porém, em nossa visão, essa incerteza diminuiu consideravelmente. Chegamos a um estágio mais previsível da política tarifária americana, que foi o grande risco nos últimos meses — espera-se que as tarifas dos EUA se mantenham em 10% para a maioria dos países e, no caso da China, entre 20% e 30%. A aprovação do pacote fiscal de redução de impostos no Congresso também contribui para diminuir a incerteza, embora o pacote tenha desvantagens.
No entanto, acreditamos que o cenário global não é o fator crucial para a política monetária do Brasil. O foco do BC está na situação nacional.
No Brasil, houve melhora na inflação atual, o que é importante para o BC. Os núcleos agora estão por volta de 5,5%. Contudo, é cedo para afirmar que é uma tendência. É uma desaceleração bastante lenta — ela continuará, mas de forma gradual, porque a atividade não está enfraquecendo, mesmo com taxas de juros elevadas. Veremos mais estímulos fiscais, parafiscais e de crédito nos próximos meses.
Money Times: Quais são as preocupações do Copom?
Toledo: Atualmente, o debate gira em torno do desempenho da atividade econômica. Mesmo com o aperto monetário, os dados ainda não permitem concluir com segurança que a atividade está desacelerando.
Os modelos sugerem que, neste segundo trimestre, deveríamos observar um efeito perceptível do aperto da política monetária, com a demanda por consumo e investimento enfraquecendo significativamente.
O mercado de trabalho também preocupa o Banco Central. Desde o último Copom, o mercado tem mostrado ser ainda mais forte do que seria compatível com essa fase atual do ciclo de aperto monetário.
Money Times: As medidas referentes ao IOF serão consideradas pelo Banco Central para a próxima decisão de juros?
Toledo: Na minha opinião, não. A princípio, o Banco Central não deve misturar os assuntos — o IOF não deve ser usado como instrumento de política monetária.
E estimar os impactos secundários é muito complicado. Discordo da ideia de equivalência entre IOF e Selic, porque a Selic afeta diversos setores da economia.
Algo que o Banco Central pode incluir em seu cenário é a isenção do Imposto de Renda Pessoa Física. O projeto, a ser implementado no próximo ano, está progredindo e tem alta chance de ser aprovado.
Por enquanto, o Banco Central não incorporou isso em seu cenário, mas pode fazê-lo a partir de agora.
Money Times: O BC deve encerrar o ciclo de aperto monetário nesta reunião?
Toledo: Eu vejo uma probabilidade de 70% de a Selic a 14,75% funcionar. Ou seja, ser compatível com uma redução gradual da atividade e uma diminuição gradativa da inflação.
Nesse sentido, o BC está em uma posição confortável, uma vez que atingiu um nível muito alto de taxas de juros — é a política monetária mais restritiva da história recente do Brasil. Estamos falando de uma taxa real de juros de 9,5%.
No entanto, concluir o ciclo pode ser prematuro. Existe uma grande chance de 14,75% ser suficiente, mas o risco continua assimétrico para que a atividade permaneça forte e a desinflação seja muito lenta. Portanto, o Banco Central talvez precise permanecer vigilante e, eventualmente, preparado para recomeçar o ciclo de juros no futuro.
Money Times: Qual será a postura do Banco Central na reunião de junho, segundo o mercado?
Toledo: O Banco Central não fará um foward guidance, porém os diretores também têm ciência de que não haverá um ciclo de queda de juros no curto prazo.
As expectativas já embutidas na curva de juros indicam esse corte mais cedo, mas não é o discurso do Banco Central. Ele se afastou totalmente de qualquer debate sobre redução de juros. Foi o mercado que trouxe esse debate prematuramente.
A intenção do BC é evitar discutir precocemente a redução de juros.
Money Times: Quando o Banco Central começará a flexibilizar a política monetária?
Toledo: Os cortes terão início no segundo trimestre de 2026 e a Selic encerrará o ano em 13% — um patamar ainda elevado. Estamos falando de um ciclo de easing extremamente cauteloso — historicamente seria considerado muito cauteloso.
A condição primordial para que o BC reduza os juros é uma queda substancial na inflação atual, ainda que não retorne exatamente à meta. E, para isso ocorrer, é essencial que haja uma desaceleração da atividade econômica.
Fonte: Money Times