A disputa comercial entre Estados Unidos e China gerou uma conversa sobre dar espaço para nações em desenvolvimento, como Brasil, México e Índia. Entretanto, de acordo com o economista da Rio Bravo, José Alfaix, as oportunidades aqui são restritas.
Em uma conversa com o Money Times, Alfaix ressaltou que em certos setores o Brasil consegue disponibilizar os produtos que podem estar em falta, como soja e milho. Nessa situação, ele vê a possibilidade de preencher a lacuna norte-americana, especialmente devido à concorrência direta com o produto de soja dos Estados Unidos.
No entanto, ao ampliar a discussão além do agronegócio, ele questiona o que o Brasil poderia oferecer aos EUA que não venha da China.




“Não possuímos uma indústria consolidada, então eletrodomésticos e manufaturados, em particular, são áreas em que não temos infraestrutura robusta para competir. Assim, se pudermos de fato atender a alguma demanda, poderia ser absorver produtos que a China redirecionaria para cá, ou ainda atender às necessidades dos Estados Unidos em termos de soja, milho e produtos básicos agrícolas. Não consigo visualizar outra possibilidade além desse cenário”, destacou Alfaix.
Segundo ele, quando se discute a perspectiva do Brasil tornar-se o país do futuro, ainda há uma série de questões em aberto, como a falta de infraestrutura de qualidade, transporte ferroviário, setor manufatureiro e mão de obra especializada.
“Se aprofundarmos a análise, veremos que ainda estamos distantes desse cenário”, afirmou.
O Brasil em meio à disputa comercial
No contexto atual, Alfaix defende que, em termos de impactos positivos, o destaque vai para o agronegócio, devido ao aumento nos preços das commodities, à fase favorável do setor e à oscilação do câmbio, mesmo após uma recente desvalorização.
Ao considerar o setor de energia ou empresas intensivas em commodities de energia, como Petrobras e outras petrolíferas, ele observa que o impacto é desfavorável, uma vez que a rentabilidade das empresas é afetada pela queda do petróleo.
Para ele, o mesmo ocorre com as companhias do ramo de metais, que sofrem com o cenário global que impacta a produção de minério de ferro, alumínio e aço.
Descompasso macroeconômico
O economista da Rio Bravo avalia que há um “descompasso” entre a situação macroeconômica global e doméstica.
“Por um lado, temos uma queda na inflação devido às commodities, o que reduz os custos de produção e facilita o trabalho de controle de inflação pelo Banco Central. No entanto, por outro lado, temos um governo muito preocupado com sua reputação eleitoral e com a situação fiscal”.
Alfaix destaca que, atualmente, o governo não dispõe da mesma margem de gastos do ano anterior, o que resultou em medidas de estímulo econômico fora do orçamento, como saque do FGTS, nova faixa do Minha Casa Minha Vida, entre outras ações que têm impacto direto no consumo.
“Temos um forte impulso fiscal, com mais recursos disponíveis para o consumo e aumento do consumo. Por um lado, os preços das importações ficam mais baixos devido à recessão global, o que torna as commodities mais acessíveis. Porém, o governo tem gastado tanto fora do orçamento que acabamos tendo um efeito de serviços mais robustos”, analisa.
“Essa situação é basicamente um descompasso. A política monetária é restritiva, com o Banco Central tentando controlar o ímpeto que o governo tem em estimular a economia”, conclui.
Fonte: Money Times