A fase de resultados inicia-se a ganhar impulso, porém alguns desfechos chamam a atenção de analistas e investidores — particularmente em meio à batalha comercial entre os Estados Unidos e a China. A Intel e a TSMC reproduzem tal confronto no âmbito da tecnologia.
Retrocedendo um pouco, a guerra tarifária iniciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, realmente reacendeu a disputa comercial entre os países — a qual tem suas origens no início do primeiro mandato do político republicano.
Desde então, o setor da tecnologia, especialmente de chips e semicondutores avançados, tem se tornado o centro do embate entre as nações.




De um lado, os EUA acusam Pequim de empregar ferramentas e componentes de Inteligência Artificial (IA) para fins militares. No outro lado, a China acusa os norte-americanos de protecionismo em relação aos produtos chineses.
Independentemente disso, empresas voltadas para a fabricação de chips e semicondutores, assim como software e hardware avançados, são as que enfrentam maiores desafios.
Uma análise aprofundada das empresas desse ramo que já divulgaram seus resultados do primeiro trimestre de 2025 — com projeções para o segundo trimestre — auxilia na compreensão desses impactos.
Confira abaixo uma avaliação sobre Intel e TSMC:
Intel – Demonstrativo Financeiro no 1T25
Indicador | 1T25 | 1T24 | Variação (%) |
---|---|---|---|
Receita Líquida (US$ bi) | 12,67 | 12,72 | -0,40% |
Lucro Líquido (US$ bi, GAAP) | -0,80 | -0,40 | — |
EPS (GAAP, US$) | -0,19 | -0,09 | — |
Margem Bruta (GAAP) | 36,90% | 41,00% | -4,1 p.p. |
Margem Operacional (GAAP) | -2,40% | -8,40% | 6,0 p.p. |
Margem Líquida (GAAP) | -6,50% | -3,00% | -3,5 p.p. |
Fonte: Demonstrativo Financeiro Intel
TSMC – Demonstrativo Financeiro no 1T25
Indicador | 1T25 | 1T24 | Variação (%) |
---|---|---|---|
Receita Líquida (NT$ bi)* | 839,25 | 592,64 | 41,60% |
Lucro Líquido (NT$ bi)* | 361,56 | 225,65 | 60,30% |
EPS (NT$)* | 13,94 | 8,70 | 60,20% |
Margem Bruta | 58,80% | 53,10% | 5,7 p.p. |
Margem Operacional | 48,50% | 42,00% | 6,5 p.p. |
Margem Líquida | 43,10% | 35,60% | 7,5 p.p. |
Fonte: Demonstrativo Financeiro da TSMC. (*Expresso em Novo Dólar Taiwanês (NT$), equivalente a cerca de US$ 0,031.)
O que Intel prevê para o segundo trimestre
Estabelecida em 1968, a Intel testemunhou o surgimento e expansão da web nos computadores pessoais. Hoje, a empresa dos EUA possui cerca de 70% de participação no mercado de processadores para PCs e servidores.
Entretanto, nos últimos tempos, a companhia tem enfrentado pressões nas margens, particularmente após o surgimento de novas tecnologias voltadas para Inteligência Artificial. Isso resultou na Intel ficando para trás na corrida rumo à nova fronteira tecnológica em relação aos concorrentes, impactando seus resultados.
Na última quinta-feira (24), a empresa antecipou uma receita aquém das estimativas de Wall Street para o segundo trimestre. Essa projeção anulou as expectativas do primeiro lucro líquido sob a liderança do novo CEO Lip-Bu Tan, que assumiu o cargo em março deste ano.
Diante disso, a empresa californiana aguarda uma receita entre US$ 11,2 bilhões e US$ 12,4 bilhões para o trimestre finalizado em junho, comparado à estimativa média dos analistas de US$ 12,82 bilhões, de acordo com dados compilados pela LSEG.
“O atual contexto macroeconômico está gerando grande incerteza em todo o setor, o que se manifesta em nossa previsão”, afirmou o CFO David Zinsner em um comunicado.
A Intel na batalha comercial
Apesar de Trump ter poupado os chips de tarifas adicionais — por enquanto —, a China prossegue com suas taxas de retaliação contra os semicondutores fabricados nos EUA, trazendo incertezas quanto às vendas da Intel para um de seus principais mercados.
Estima-se que os chips produzidos nos EUA enfrentarão tarifas de 85% ou mais, conforme alerta da Associação da Indústria de Semicondutores da China, no início de abril.
A China importa aproximadamente US$ 10 bilhões em chips dos Estados Unidos anualmente. Cerca de US$ 8 bilhões correspondem a unidades centrais de processamento (CPUs, na sigla em inglês) montadas pela Intel nos EUA, de acordo com analistas da Bernstein.
TSMC X Intel: Enquanto uns lamentam…
Por outro lado, a principal fabricante de chips sob encomenda, TSMC, indica estar otimista em relação ao ano, com base na sólida demanda por sistemas de inteligência artificial.
Em comunicado, a empresa afirma que ainda não percebeu alterações no comportamento dos clientes, apesar da incerteza em relação às tarifas de importação dos EUA.
Inaugurada em 1987 — cerca de 20 anos após a Intel —, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) tornou-se um ponto de referência na indústria global de chips. Estimativas indicam que a empresa é responsável por 70% dos chips e semicondutores em circulação no planeta.
Assim, a TSMC espera que a receita de microprocessadores de IA dobre neste ano.
“Certamente estamos atentos aos possíveis impactos de todos os recentes anúncios de tarifas, especialmente sobre a demanda do mercado final”, declarou o CEO da TSMC, C.C. Wei, na teleconferência para analistas.
“Dito isso, não identificamos até o momento mudanças no comportamento de nossos clientes. Portanto, mantemos nossas previsões”, concluiu.
TSMC se mantém à margem das contendas tarifárias. Inclusive, Wei se comprometeu com investimentos adicionais de US$ 100 bilhões nos EUA no mês passado — durante uma visita a Trump na Casa Branca.
“Esse tipo de debate sobre tarifas pertence aos países. Nós somos uma empresa privada”, ressaltou ele.
Contudo, os desafios de Taiwan persistem
Apesar disso, Taiwan é cenário de um conflito que vai além do poder das empresas privadas e dos estados nacionais.
Começando pelo fato de que a China considera Taiwan uma região rebelde do país. Do outro lado da ilha de pouco mais de 36 quilômetros quadrados — ligeiramente menor que os 42 km² do estado do Rio de Janeiro —, se proclama como uma área independente.
Essa independência, no entanto, não é reconhecida pelas principais nações-membro da ONU, inclusive pelos Estados Unidos, que veem a ilha como parte integrante da China continental.
De qualquer forma, Taiwan é palco do embate entre China e Estados Unidos, tanto em termos ideológicos de política estatal quanto no âmbito tecnológico.
Fonte: Money Times