O Banco Central visualiza a Taxa Selic em 15% ao ano como satisfatória e planeja reforçar sua estratégia de taxas elevadas por um longo período na reunião agendada para os dias 29 e 30 de julho. Essa perspectiva é compartilhada pela principal economista da Lifetime Gestora de Recursos, Marcela Kawauti — e, de fato, coincide com a opinião predominante no mercado.
De acordo com ela, em uma entrevista ao Money Times, dois fatores explicam a possível decisão de manter a atual situação: a sinalização do próprio Comitê de Política Monetária (Copom) de encerramento do ciclo de aperto monetário e o contexto macroeconômico.
No comunicado anterior, os diretores adiantaram a interrupção do aumento da taxa para avaliar os efeitos acumulados do ajuste já realizado e indicaram a manutenção das taxas no nível vigente por um período bastante extenso.




No que diz respeito ao contexto macroeconômico, a taxa de inflação está em um processo de desaceleração. “A inflação chegou próximo de 5,50% no primeiro trimestre, mas agora está diminuindo para perto de 5,30% e talvez até fique um pouco abaixo no IPCA-15, principalmente devido a questões cambiais”, observa Kawauti.
Por outro lado, a economista destaca que os preços dos serviços permanecem acima da marca de 6% e preocupam as autoridades.
“Manter as taxas nesse nível elevado auxilia a lidar com essa questão. Há uma parte que ajuda a conter a inflação, mas a parcela que ainda gera preocupações precisa ser tratada pela política monetária, que permanece restritiva”, destaca.
Ela menciona que o mercado chegou a um consenso em relação ao conteúdo do comunicado e à decisão, uma vez que o Copom conseguiu alinhar as expectativas já na comunicação da última reunião.
Kawauti espera que o comunicado da próxima semana contenha ajustes pontuais em relação ao documento anterior, refletindo tanto fatores locais quanto o panorama global. Entre os pontos em destaque, está a possibilidade de mencionar o impacto das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, recentemente anunciadas pelo presidente Donald Trump.
“Pode ser que o Banco Central mencione o impacto disso nos ativos brasileiros e no câmbio, que se deteriorou”, alerta, destacando o potencial impacto na inflação via dólar — embora o efeito indireto não seja imediato.
Cabe ressaltar que outra possibilidade na comunicação do Banco Central é a melhoria nas projeções de inflação. No último Boletim Focus, houve uma revisão para baixo na estimativa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2026, de 4,50% para 4,45% — dentro da margem de tolerância da meta.
No aspecto fiscal, a economista vislumbra a menção do Copom aos avanços em medidas que incrementam o gasto público, como a aprovação da PEC dos Precatórios, o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e o terceiro relatório bimestral, que projeta o descontingenciamento de recursos.
“É possível que seja mencionado, embora não seja garantido. Seria positivo se fosse abordado, pois todos esses fatores influenciam as expectativas e a curva de juros”, explica.
Em que momento o Copom deve reduzir a Taxa Selic?
Segundo a economista-chefe da Lifetime, o Banco Central deve iniciar o ciclo de redução da Selic somente a partir de março de 2026.
Ao enfatizar que a política monetária opera com um certo atraso, especialmente em relação ao setor de serviços — atual foco de preocupação, Kawauti destaca: “Tudo o que o Copom está implementando agora terá efeitos em cerca de seis a oito meses”, frisa.
As projeções da gestora de recursos apontam para uma redução gradual da Selic, chegando a 13% ao final do próximo ano.
“Em um ano eleitoral, é crucial que o Copom seja altamente previsível, informando seus passos de forma gradual e consistente”, conclui.
Fonte: Money Times