A tributação excessiva dos Estados Unidos de 10% sobre os produtos brasileiros pode ser uma chance de lucro para o Brasil se o país conseguir negociar com outros parceiros comerciais. A análise é do economista e docente da Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Adalmir Marquetti.
Em conversa com o periódico Repórter Brasil, da TV Brasil, ele enfatizou a necessidade de aprovação imediata do pacto entre o Mercosul e a União Europeia (UE).
“O procedimento de negociação é um aspeto vital a considerar. Deve-se tentar uma retaliação em alguns artigos, mas também é preciso negociar com outras nações. Penso que a visita do presidente Lula ao Japão e ao Vietnã é crucial para buscar novos parceiros comerciais, intensificar nossas relações com esses países em crescimento, que estão se tornando relevantes na economia mundial”, afirmou o professor.
Para Marquetti, o pacto Mercosul-UE tem uma relevância estratégica para mitigar o impacto da medida do governo de Donald Trump. De acordo com ele, o acordo não trará vantagens apenas para a balança comercial (exportação e importação de bens), mas também para a balança de serviços, na qual o Brasil importa consideravelmente mais do que exporta e consome cerca de 40% do superávit comercial.
“Sem dúvida alguma, [a sobretaxação de Trump] cria uma oportunidade para negociações e busca de novos parceiros comerciais. Inclusive, é o momento certo para implementar o acordo Mercosul-União Europeia. Esse acordo visa a conquistar novas parcerias para o Brasil que abarquem tanto a balança de bens como a de serviços. Temos uma balança comercial bastante positiva, porém nossa balança de serviços, no caso brasileiro, é negativa”, afirmou o professor.
Marquetti ressaltou que a resolução dos Estados Unidos abrange somente as importações de bens, não de serviços. Isso ocorre porque o país é um dos principais exportadores de serviços globais, sobretudo de serviços tecnológicos e audiovisuais.
O acadêmico ainda mencionou que o Brasil, como a sétima ou oitava maior economia mundial (dependendo da medição), tem capacidade para dominar o mercado global à medida que outras nações retaliem os Estados Unidos.
Contudo, ele recomenda que o processo não se restrinja apenas a produtos agrícolas e minerais, mas englobe mercadorias de maior valor acrescentado.
“O Brasil possui potencial para se destacar no mercado global, inclusive no espaço que outras nações deixarão de ocupar ao reagir contra os Estados Unidos. No caso da China, os chineses estão aumentando a compra de produtos agrícolas brasileiros. E aqui está um ponto crucial: como podemos aproveitar essa crise mundial, originada pelas tarifas dos Estados Unidos, para aprimorar nossa lista de exportações? Para expandir também a exportação de mercadorias industriais e com maior valor agregado na economia nacional”, concluiu.
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Comércio recíproco
Após o comunicado de Trump, a Câmara dos Deputados aprovou, ontem à noite (2), o Projeto de Lei 2.088/2023, que estabelece a Lei da Reciprocidade Comercial, concedendo autorização ao governo brasileiro para adotar medidas comerciais contra países e blocos que imponham obstáculos aos produtos do Brasil no mercado global. Agora, o texto segue para sanção presidencial.
O governo brasileiro não exclui a hipótese de recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as tarifas, como informaram os ministérios das Relações Exteriores (Itamaraty) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). Contudo, o foco principal, neste momento, é negociar a reversão das medidas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos.
* Informações fornecidas pela TV Brasil
Fonte: Agência Brasil