O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês de maio revela que a expansão monetária está em um processo de diminuição, de acordo com o principal economista do Banco BMG, Flávio Serrano. “Observamos os núcleos bem controlados. Em junho e julho, o IPCA será ameno, assim como no período de maio”, declarou em conversa com o Money Times.
A taxa de inflação no Brasil desacelerou para 0,26% no quinto mês do ano e alcançou 5,32% no acumulado de 1 ano. A previsão do mercado, entretanto, era de aumentos maiores, de 0,34% e 5,40%.
Conforme Serrano, o IPCA surpreendeu no nível de magnitude, porém não na direção em que se desenvolve. “A expectativa era de que o IPCA começasse a se estabilizar, o que se prolongaria para os meses de junho e julho. Essa tendência continua prevalecendo”, afirmou.



O economista destaca que o cenário de estabilização nos preços a curto prazo, especialmente na área de alimentos, pode contribuir para uma inflação mais baixa no meio do ano. “Prevemos que o custo dos alimentos em casa terá um comportamento bastante favorável nos próximos dois meses. Em junho ou julho, é possível que vejamos até uma queda de preços”.
No entanto, eventualmente, novos aumentos nas tarifas de energia elétrica podem resultar em altas inesperadas. “A eletricidade contribui para a volatilidade nos resultados do IPCA.Prevemos a bandeira vermelha 1 em junho e a possibilidade de ter a bandeira vermelha 2 em julho ou agosto”.
A existência ou não das bandeiras tarifárias depende da evolução climática e do equilíbrio do risco hídrico. Esta situação, contudo, é pontual, com chance de ser revertida posteriormente, conforme avaliação de Serrano.
No mês de maio, a surpresa veio da área de bens industriais, refletindo a desaceleração econômica, a variação cambial e o período de safra do etanol.
“Essa surpresa em grande parte derivou do etanol. O etanol teve uma redução de 0,91% no mês. A desaceleração dos bens de linha branca e marrom também foi notável — produtos como televisão e geladeira, por exemplo, apresentaram uma redução de preços mais acentuada”, afirmou.
Inflação permanece sob pressão no longo prazo
Apesar de reconhecer a redução nos preços, Serrano destaca que a inflação permanece sob pressão no longo prazo. O risco orçamentário é um dos elementos que sustentam tal cenário.
“A situação financeira, o risco institucional e a crescente percepção de risco podem postergar a diminuição da atividade. E, consequentemente, a estabilização da inflação também será adiada”, expressou.
Este ambiente também pode impactar o mercado cambial. Embora a taxa de câmbio tenha se mantido relativamente constante, o equilíbrio pode se modificar, gerando pressão sobre os preços, especialmente no setor de bens industriais.
Além disso, o ambiente de trabalho influencia os preços, pois tem demonstrado ser persistentemente resistente, indo contra as expectativas de desaceleração. “Se a situação do mercado de trabalho continuar nesse ritmo, pode postergar a redução da atividade econômicae, como resultado,a desaceleração da inflação será ainda mais adiada”.
A previsão do Banco BMG para a inflação em 2025 é de 5,2% — acima da meta estabelecida pelo Banco Central (BC) de 3%, com margem de 1,50 ponto percentual para cima ou para baixo.
E a Taxa Selic?
Segundo o economista do Banco BMG, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve manter a Taxa Selic inalterada em 14,75% ao ano durante a reunião dos dias 17 e 18 de junho. Os juros devem permanecer nesse nível até o início de 2026.
O cenário de incertezas levará o Copom a descartar novos aumentos na taxa de juros. Conforme Serrano, há incertezas sobre a força do mercado de trabalho e a resistência da atividade econômica. “Pode ser mais fraca ou mais robusta”, mencionou.
Além disso, existem dúvidas sobre a dinâmica da inflação, levando em consideração os possíveis efeitos baixistas do cenário global e as defasagens da política monetária.
“Neste cenário de muita incerteza, parece mais sensato observar primeiro”, concluiu.
Fonte: Money Times